Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Assombrado por 'rachadinhas' acabou metido em grampos e falsificação de urnas

A turma brasileira é polivalente

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Quando os governos se metem com resolvedores de problemas, as tramas ganham muitos detalhes, mas na essência, saem da mesma raiz e acabam criando encrencas muito maiores.

No filme "Oppenheimer", apareceu brevemente a figura do coronel americano Boris Pash.

Ouvindo grampos do FBI, ele tentou afastar Robert Oppenheimer do projeto da bomba atômica.

Filho de um padre russo, Pash havia combatido na guerra civil contra os bolcheviques. De volta aos Estados Unidos, casou-se com uma aristocrata e, durante a Segunda Guerra Mundial, entrou para o Exército. Em 1945, numa operação brilhante, ele participou da captura de toneladas de urânio bruto e material radioativo na Alemanha.

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Jair Bolsonaro e o advogado da familia, Frederick Wassef - Gabriela Biló - 6.jun2022 /Folhapress

Com a Guerra Fria, Pash entrou nas operações paramilitares do governo americano e acabou na Central Intelligence Agency.

Nos anos 60, ele estava no planejamento de uma operação para envenenar os charutos do cubano Fidel Castro. Nessa armação, Pash tratou com outro funcionário da CIA. Chamava-se Everette Howard Hunt.

No dia 22 de novembro de 1963, noutro braço dessa trama, em Paris, a CIA entregaria a um cubano uma seringa para injetar veneno em Fidel Castro. Quando chegou a notícia de que o presidente Kennedy havia sido assassinado em Dallas, o esquema foi desativado.

Hunt, contudo, continuaria em ação. Em 1972, ele dirigiu a operação que colocaria um grampo na sede do partido Democrata, no edifício Watergate, em Washington. Deu tudo errado, Hunt foi para a cadeia e o presidente Richard Nixon acabou perdendo o mandato.

Neste ano completam-se 60 anos do assassinato de John Kennedy e, mais uma vez, o crime será revisitado. Por mais que se duvide, merece crédito a conclusão da comissão do presidente da Corte Suprema, Earl Warren: aquilo foi coisa de Lee Oswald, e só dele.

Para quem gosta da dúvida, fica uma frase de Lyndon Johnson, o vice que assumiu a presidência: "Kennedy estava tentando pegar Castro, mas Castro pegou-o primeiro".

Johnson disse isso a um jornalista anos depois. Ele mentia muito, mas era o presidente dos Estados Unidos.

No Brasil, um governo que começou assombrado pelas "rachadinhas" de Fabrício Queiroz, acabou metido num esquema de grampos e falsificação de urnas eletrônicas com Walter Delgatti.

Queiroz, como se sabe, escondia-se na casa do advogado Frederick Wassef que, por sua vez, resgatou um Rolex saudita vendido a uma joalheria americana.

Mundo pequeno. No ano passado, Delgatti tramava com a deputada Carla Zambelli, depois de ter ganho notoriedade capturando comunicações dos procuradores de Curitiba durante a Operação Lava Jato, do juiz Sergio Moro.

Em fevereiro de 2020, no apogeu do bolsonarismo, o então ministro e hoje senador Sergio Moro dançou uma valsa com a noiva no casamento da deputada Zambelli.

A turma brasileira é polivalente.

O tamanho de Bolsonaro

Quando o presidente Jair Bolsonaro reuniu-se com Walter Delgatti no Palácio da Alvorada, mostrou o respeito que tinha pelo cargo que ocupava.

Bolsonaro contribuiria para os costumes reconhecendo que a operação de resgate das joias sauditas foi desencadeada por seus subordinados com seu conhecimento. Chefe não joga subordinados às feras.

O silêncio de Barroso

Como presidente do Tribunal Superior Eleitoral até fevereiro de 2022, o ministro Luís Roberto Barroso comeu o pão que Asmodeu amassou lidando com oficiais encarregados de verificar a neutralidade das urnas eletrônicas. Conviveu com astúcias, negaças e mentiras.

A cada conversa, com a tarimba de advogado e a cautela de magistrado, mostrou aos militares com quem conversava (de todas as patentes) os riscos que as Forças Armadas corriam, como instituição, metendo-se no negativismo bolsonarista. Ouvia, advertia e calava.

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