Descrição de chapéu Eleições 2022 Rio de Janeiro

Queiroz diz rezar por Bolsonaro e agora usa bezerros para explicar 'rachadinha'

Candidato a deputado estadual, ex-assessor de Flávio Bolsonaro diz que fazia transações de bezerros com ex-PM

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

Oficializado como candidato a deputado estadual pelo PTB-RJ, Fabrício Queiroz se preparava na última sexta-feira (5) para gravar as inserções para a propaganda eleitoral que será veiculada na TV. Expressava satisfação porque conseguira um vídeo de 10 segundos e outro de 15.

Demonstrava, também, preocupação com eventuais limites legais para o uso do nome do presidente Jair Bolsonaro após a confirmação de Roberto Jefferson como o nome do PTB para disputar o Planalto.

Queiroz recebeu a Folha na sala de um hangar do Aeroporto de Jacarepaguá, no Rio, emprestada por um amigo.

De blazer, gravata e calça jeans, o pivô da acusação contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das "rachadinhas" tratou com um misto de naturalidade e desdém uma possível agenda de campanha com Bolsonaro, de quem é amigo há mais de três décadas.

Fabrício Queiroz, pivô do escândalo da 'rachadinha' de Flávio Bolsonaro e candidato a deputado estadual pelo PTB, em sala de aeroporto no Rio
Fabrício Queiroz, pivô do escândalo da 'rachadinha' de Flávio Bolsonaro e candidato a deputado estadual pelo PTB, em sala de aeroporto no Rio - Eduardo Anizelli/Folhapress

"Vai ser normal a gente se esbarrar em algum evento. Se não tiver nenhuma outra coisa na minha agenda, com certeza eu vou [a um compromisso do presidente]. Não vou constranger o presidente nem forçar a barra em nada. Faço campanha para ele e rezo que consiga mais quatro anos de mandato."

Na primeira oportunidade que teve, na convenção do PL que oficializou a candidatura de Bolsonaro à reeleição, Queiroz não apareceu.

"Na outra convenção eu estava ao lado dele. Estava ao lado da Janaína Paschoal, da Joice [Hasselmann], daquele canalha do Alexandre Frota, esses traidores aí."

"Para mim, ficar lá embaixo não seria legal, tendo pessoas lá surfando. O que mais teve naquela convenção foram surfistas. Não preciso surfar, não. Quem precisa surfar e ficar de papagaio de pirata são os outros."

Queiroz se lançou candidato após aval de Flávio. O ex-PM preferia tentar uma vaga na Câmara, mas o senador sugeriu que concorresse a deputado estadual. A orientação foi acatada.

Ele afirma que não pediu autorização para usar o nome Bolsonaro na urna, como fizeram o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ) e o ex-PM Max Guilherme (PL-RJ), segurança do presidente. Para ele, a prática é uma "babaquice".

"Sou o Fabrício Queiroz. Acho isso uma babaquice. Queiroz Bolsonaro?"

O ex-assessor de Flávio vai atrás de um gabinete na mesma Assembleia Legislativa em que, de acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro, atuou como operador financeiro de um esquema que desviou R$ 6 milhões dos cofres públicos.

"Jamais imaginei me candidatar a deputado, vereador. Sempre estive nos bastidores junto à família. Nunca perdemos uma eleição. Devido ao que passei, minha prisão e as saídas à rua, onde todo o pessoal de direita pede para eu ser deputado, decidi me candidatar."

Um dos episódios que o motivaram a disputar as eleições foi a exoneração de uma de suas filhas de um cargo no governo estadual.

"O currículo dela é impecável. Achei um absurdo. Sou investigado, e [por isso] meus filhos não podem ter trabalho? Isso doeu muito. Foi uma das coisas que me despertaram também a concorrer. Para mostrar a esse pessoal que não sou leproso."

Fabrício Queiroz participa de manifestação de ex-PMs em frente ao Palácio Guanabara, sede do Governo do Rio de Janeiro
Fabrício Queiroz participa de manifestação de ex-PMs em frente ao Palácio Guanabara, sede do Governo do Rio de Janeiro - Tércio Teixeira - 10.mar.22/Folhapress

Após três anos de investigação, Queiroz não esconde as mágoas em relação a ex-colegas de gabinete.

"Tinha gente lá que me chamava de pai, de papi. Fui padrinho de casamento de uma. Carreguei um deputado no colo para colocar do nosso lado o tempo todo. Um menino eu coloquei na segurança. Nunca me mandaram um oi", afirma. O mesmo rancor ele afirma não ter de Bolsonaro nem de Flávio.

"A pauta deles é muito grande, não tem por que eu ficar trocando ideia com eles. Até porque o presidente disse que, até tudo ficar esclarecido, nossa relação estava cortada. Como um bom soldado, cumpri e cumpro até hoje", diz ele.

Mesmo com a acusação arquivada, Queiroz afirma considerar não ser o momento de cobrar uma reaproximação.

"Sou um grão de areia para encher o saco do presidente quanto a isso. Não vou ficar jogando letrinha, indiretas. Respeito muito eles. Quem sou eu para ficar enchendo o saco de senador e de presidente para me dar apoio? Tem que partir deles."

O MP-RJ pretende reabrir a investigação do caso. Queiroz diz não temer a investigação, mas demonstra irritação ao ser questionado sobre os detalhes. "É até um assunto chato."

O ex-PM já apresentou duas versões para explicar sua movimentação financeira: os "rolos" em negociação com carros e a remuneração de funcionários informais do gabinete de Flávio.

Diante da insistência sobre o tema, Queiroz apresentou uma terceira explicação para a circulação de dinheiro vivo em suas contas bancárias: empréstimos para a compra e a venda de gado com o ex-PM Adriano da Nóbrega, acusado de comandar uma milícia na zona oeste do Rio de Janeiro.

"Quando ele começou a ter esses problemas na polícia, começou a comprar garrote, bezerro. Eu tinha muita amizade com ele. Ele me disse: ‘Queiroz, todo R$ 5.000 que você me trouxer eu compro um garrote’. Eu pegava R$ 5.000 e devolvia R$ 6.000 para as pessoas. Geralmente tinha que dar por mês."

"Pegava dinheiro com a mãe dele para eu pagar as pessoas conforme o combinado. Isso virava uma bola de neve. Essa é uma das razões para eu ter dinheiro vivo na minha conta."

Na tentativa de esclarecer detalhes da nova versão, Queiroz se antecipa. "Não era agiota, não. Você acha que eu ia fazer alguma coisa errada com cara do gabinete? Confiança total. Mas deixa isso para lá, vai dar dor de cabeça."

Broches do PTB e da brigada de paraquedistas na lapela do blazer de Fabrício Queiroz, pivô do escândalo da 'rachadinha' de Flávio Bolsonaro e candidato a deputado estadual
Broches do PTB e da brigada de paraquedistas na lapela do blazer de Fabrício Queiroz, pivô do escândalo da 'rachadinha' de Flávio Bolsonaro e candidato a deputado estadual - Eduardo Anizelli/Folhapress

A imagem que ele diz ter de Adriano é diferente da descrita pelo MP-RJ, que o aponta como um dos chefes do Escritório do Crime, grupo de assassinos profissionais.

"Adriano sabia movimentar dinheiro. Era bom negociador. Comprava gado por R$ 3.000, R$ 4.000, e vendia por R$ 6.000. Ele tinha muita cabeça de gado. [...] Miliciano eu tenho certeza de que ele não foi. Do Escritório do Crime tenho certeza de que ele não fez parte. Talvez tenha trabalhado para a contravenção. Mas ele me respeitava muito."

Adriano foi morto pela Polícia Militar baiana ao ser localizado após um ano e meio foragido.

Queiroz também comentou pela primeira vez o depoimento da ex-assessora Luiza Souza Paes, que confessou ao MP-RJ ter sido funcionária fantasma do gabinete de Flávio e devolvido dinheiro ao ex-PM.

Ele afirma que os repasses eram feitos para quitar uma dívida do pai dela. "Conheço o pai dela há anos. Só de pelada tínhamos 16 anos. O Fausto estava com dívida com um agiota, e emprestei um dinheiro para ele liberar essa situação. Empreguei a filha dele lá e pagava do jeito que podia pagar, por meio da Luiza."

Sobre os R$ 89 mil em cheques dele e de sua mulher na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro, Queiroz fala em três empréstimos feitos pelo presidente para que pudesse quitar uma dívida com o banco, comprar um carro e se tornar sócio de uma padaria —negócio não concretizado, em troca de um carro blindado.

"Tinha mais liberdade de chegar e zoar, pedir dinheiro emprestado para ele do que para o Flávio. Não queria misturar, trabalhar com ele e ficar devendo."

Queiroz diz não se incomodar com o fato de o escândalo ser uma sombra constante sobre seu sobrenome. "Estou nem aí. Não me incomodo porque sou inocente. Não cometi crime nenhum."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.