Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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O enigma do ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez

Caso da companhia tornou-se um episódio capaz de dar inveja a Agatha Christie

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Miguel Gutierrez, o ex-CEO da rede Americanas, sempre foi uma pessoa reservada. Nas últimas semanas, tornou-se incompreensível.

No final de julho, ele havia recebido do Supremo Tribunal Federal uma licença para ficar calado. Depois, pediu à CPI que o dispensasse de um depoimento presencial, marcado para 1º de agosto. Ofereceu-se para depor a qualquer momento por videoconferência, ou presencialmente "em data posterior a 25 de agosto".

Homem calvo branco de camisa azul e por cima casaco esportivo escuro
Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas - Reprodução Americanas Summit - 2021

Nos dois casos, pedia para ser ouvido "em sessão reservada". Gutierrez está na Espanha, onde informa que trata da saúde. Ele tem a cidadania espanhola.

O executivo conhece a vida das Americanas de cor e salteado, trabalhou lá por mais de 30 anos, 20 comandando-a. O que ele não tratava na sua sala do terceiro andar da sede da empresa operava em outra, no segundo, onde as persianas ficavam baixadas.

Em 2021, quando a Americanas era vinho, sua remuneração ficou em R$ 24 milhões, R$ 6 milhões em dinheiro e R$ 18 milhões em ações. Em 2022, quando a empresa havia virado vinagre, ele teria vendido R$ 156 milhões em ações, a preço de vinho.

Entre 26 de setembro de 2022 e 2 de janeiro de 2023, quando foi substituído por Sergio Rial, Gutierrez transferiu a propriedade de três imóveis com valor declarado de R$ 2,1 milhões para parentes.

Na segunda-feira, em nova petição, abriu mão da sessão reservada, e não mais se referiu à possibilidade de um depoimento presencial para depois de 25 de agosto. Oferece-se para falar por videoconferência. Traduzindo: fala, mas fica na Espanha.

Como a esta altura o que importa são suas respostas, vá lá.

Até agora o caso da Americanas tornou-se um episódio capaz de dar inveja a Agatha Christie, a grande autora inglesa de romances policiais.

No seu "Crime do Expresso Oriente", os passageiros do vagão eram 13, 1 foi assassinado, e o detetive Hercule Poirot descobriu que o crime foi praticado por decisão de todos.

No caso da Americanas, deu-se o inverso: houve um rombo de pelo menos R$ 20 bilhões e, até agora, ninguém teve nada a ver com ele.

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