É jornalista com mestrado em Economia Política Internacional no Reino Unido. Venceu os prêmios Esso, CNI e Citigroup. Mãe de três meninos, escreve sobre educação, às quartas.
Por que candidatos não anunciam seus ministros da Educação?
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
Movimentação de alunos na escola municipal de Juquehy, no litoral de São Paulo |
Basta o ciclo de campanha eleitoral começar que é sempre a mesma história. Para conquistar ou manter apoio, principalmente do chamado mercado financeiro, candidatos à Presidência correm para se cercar publicamente de futuros ministros da Fazenda.
Foi assim com Lula e Antonio Palocci, em 2002. Foi assim com Aécio Neves e Armínio Fraga, em 2014.
Marina Silva, candidata nas duas eleições mais recentes, sempre esteve cercada por economistas que inspiravam confiança, como Eduardo Giannetti da Fonseca e André Lara Resende.
Na semana passada, foi a vez de Jair Bolsonaro, conhecido por suas declarações de viés intervencionista/nacionalista, tentar ganhar ares de liberal ao declarar que o economista Paulo Guedes, um dos fundadores do banco Pactual (hoje BTG Pactual), poderá comandar a Fazenda em um eventual governo seu.
A economia é importante, sem dúvida. Medidas acertadas ou equivocadas na área podem contribuir para o sucesso ou a ruína de países em pouco tempo. A profunda recessão que o Brasil viveu, entre 2014 e 2016, foi acentuada por trapalhadas econômicas no governo de Dilma Rousseff, para ficar no exemplo mais recente, que está longe de ser o único na nossa história.
Mas, no longo prazo, o desenvolvimento sustentável depende de outros insumos, como a educação e as instituições, que não dependem exclusivamente de decisões tomadas no âmbito do Ministério da Fazenda.
O economista norte-americano Eric Hanushek é um que tem demonstrado nos últimos anos como parcela substancial do crescimento vem da qualidade do ensino que o sistema educacional consegue transmitir para suas crianças.
Não é difícil desvendar os porquês disso. Jovens bem formados se tornam profissionais mais produtivos e inovadores. Isso se converte em ganhos de eficiência e, por conseguinte, em expansão econômica.
A população brasileira parece reconhecer a importância da educação.
Em 18 pesquisas feitas pelo Datafolha desde março de 2011, "educação" apareceu 17 vezes na frente de "economia" nas citações espontâneas sobre qual era o principal problema do país.
Em metade dos levantamentos, "educação" mereceu mais menções do que "desemprego", que ganhou espaço na lista das preocupações nos últimos dois anos com a crise no mercado de trabalho.
Em todas as pesquisas, "educação" foi um problema mais citado do que "inflação".
Se é assim, por que será que candidatos não correm para nomear seus futuros ministros da Educação com a mesma prontidão com que alardeiam os nomes que vão comandar a economia?
Por que a pasta acaba quase sempre relegada ao jogo político de acomodação de partidos da coalizão depois de concluída a votação? Por que a educação é sempre citada como prioridade de todo candidato, mas tão pouco discutida durante as campanhas?
Nossos políticos parecem mais preocupados em ganhar a benção do dito, temido e abstrato —ou talvez nem tanto— mercado financeiro do que dos eleitores de carne e osso.
Mas suspeito que a baixa punição que sofrem por isso também fale algo de nós como sociedade. Já era tempo de isso começar a mudar.
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