Érica Fraga

Repórter especial, ganhou o prêmio Esso em 2013. É mestre em política econômica internacional pela Universidade de Warwick (Inglaterra).

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Descrição de chapéu trabalho - inativo Enem

Quantos empregos serão, afinal, eliminados pela tecnologia?

Estimativas variam, mas mais importante que achar o número mágico é preparar trabalhador

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Veículo autoguiado carrega bateria sob Chevrolet Bolt em fábrica em Lake Orion, Michigan
Veículo autoguiado carrega bateria sob Chevrolet Bolt em fábrica em Lake Orion, Michigan - Rebecca Cook - 19.mar.18/Reuters

 É difícil pesquisar trabalhos sobre o número de empregos ameaçados pela tecnologia e não terminar com um nó mental e alguma dose de angústia.

Há estimativas para todos os gostos e recortes metodológicos.

Os economistas Carl Benedikt Frey e Michael Osborne, que fizeram uma das primeiras avaliações sobre o tema, em 2013, concluíram que quase metade das vagas nos Estados Unidos corria sério risco.

A pesquisa inspirou uma leva de estudos subsequentes que buscam aprimorar seu método de cálculo.

Os trabalhos mais recentes —que incluem outros países— trazem estimativas menos catastróficas, apontando para algo entre 10% e 15% dos postos de trabalho sob a mira da automação.

Mas isso não significa que essas projeções mais modestas sejam alentadoras. As razões para desconforto são muitas.

Para começar, 10% dos postos de trabalho de um país não são pouca coisa. E o risco varia bastante de um lugar para outro. As nações menos desenvolvidas parecem mais vulneráveis por abrigar uma parcela maior de empregos repetitivos de baixa qualificação.

Além disso, mesmo os estudos recentes com projeções mais modestas sobre os empregos com alta chance de sumir indicam que outra parcela substancial de ocupações passará por grande transformação.

Isso significa que os profissionais que atuam nessas áreas —assim como os que terão suas vagas eliminadas— precisarão de reciclagem para se adaptar às exigências das profissões em mutação.

À medida que a reflexão avança, fica claro que muito mais importante do que achar o número mágico das profissões que serão extintas é tentar desvendar o perfil das ocupações novas e das modificadas e preparar os trabalhadores para o que vem pela frente.

Nesse ponto da discussão, os verdadeiros, enormes e preocupantes desafios se tornam evidentes.

Pesquisa recente da OCDE (grupo de países desenvolvidos e alguns emergentes) mostra que os trabalhadores mais vulneráveis são os que menos têm sido preparados.

Segundo o levantamento, a probabilidade de profissionais em ocupações com altíssima chance de automação receber treinamento no próprio trabalho era equivalente a um terço da dos que atuavam em áreas com baixo risco de serem eliminados pela tecnologia. Os empregados mais vulneráveis também possuíam probabilidade muito menor de ter participado de educação formal ou à distância.

Outra fragilidade nossa em meio às mudanças que já têm ocorrido é o desconhecimento sobre o tipo de formação necessária.

Daron Acemoglu, economista badalado e uma das vozes mais respeitadas nesse campo, ressalta isso em um trabalho recente com Pascual Restrepo:

“Mais do que uma falta geral de habilidades, o problema pode ser que trabalhadores estejam adquirindo o tipo errado de habilidades”, escreveram os pesquisadores do MIT.

Segundo eles, a inteligência artificial e outras tecnologias de automação podem exigir uma combinação entre domínio numérico, habilidade comunicativa e capacidade de resolução de problemas diferente da oferecida pelos currículos atuais.

Mas nem a dupla nem seus pares parecem ter ainda a resposta sobre a fórmula ideal de capacitação:

“Há pouca informação concreta sobre que tipos de habilidades as novas tecnologias irão complementar, o que indica a importância de mais trabalho empírico nessa área”, concluem os dois economistas.

O que há de pista sobre o assunto indica que os novos empregos demandam uma boa dose de habilidades sociais e emocionais, além de sólida formação básica em matemática e linguagem.

Uma das perguntas que se pode extrair de tudo isso para o contexto brasileiro é: com péssima formação básica, será possível avançar na parte boa da quarta revolução industrial, que envolve inovação e a consequente geração de emprego altamente sofisticado (podendo compensar, em parte, a eliminação de cargos rotineiros de baixa qualificação)? Ou estamos destinados a apenas amargar as consequências negativas das rápidas mudanças em curso no mundo do trabalho?

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