Esper Kallás

Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

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Esper Kallás

As vacinas para Covid-19 no fim de 2021

O que aprenderemos com 2020 e como deverá ser o portfólio em um ano

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O ano de 2020 não encontra precedentes para nossa geração. Estamos testemunhando um dos mais assustadores episódios da humanidade e um dos mais fascinantes momentos da ciência: o rápido desenvolvimento de várias vacinas contra uma doença global, a Covid-19. São 223 candidatas na última atualização da Organização Mundial da Saúde, 57 das quais são vacinas já em testes clínicos. Algo impressionante, considerados os poucos 11 meses desde que compreendemos a causa da doença, o Sars-CoV-2.

Hoje, conhecemos a eficácia de cinco vacinas, cujos resultados foram publicados em revistas científicas ou em notas à imprensa. A proteção mostrada atingiu níveis muito altos, de 70% a 95%, acima da expectativa de muitos cientistas, médicos e gestores em saúde pública. Aguarda-se, para os próximos dias, a divulgação sobre o desempenho da Coronavac, resultado de um estudo desenvolvido exclusivamente no Brasil.

O grande debate atual é sobre a implementação dos planos de vacinação. Em cada país, a disponibilidade de acesso e a necessidade de grandes quantidades de doses implicam estratégias peculiares e muito bem planejadas. Quais grupos devem ter prioridade e qual o número de pessoas a ser vacinado? Essas questões exigem logística complexa.

Seria também interessante fazermos um exercício de planejamento, projetando qual deverá ser a situação em prazo mais distante.

Dentro de um ano, mais vacinas estarão aprovadas. Além das cinco com resultados anunciados, dez outras já estão na etapa final de testes, a fase 3. Portanto, teremos muito mais vacinas disponíveis para serem compradas por governos e até para acesso aos serviços privados.

Com parte da população já vacinada e maior número de opções, será possível escolher uma vacina que promova maior proteção, com expectativa de efeito mais duradouro, menos efeitos colaterais e, quem sabe, melhor proteção com uma única dose. Será uma tomada de decisão baseada principalmente em custo-efetividade. Também será possível avaliarmos se combinações de diferentes vacinas trarão proteção melhor e mais longeva.

Naturalmente, algumas vacinas menos eficazes serão substituídas, à medida que outras mostrem vantagens, nas escolhas das autoridades em saúde pública e do mercado. A compreensível pressa atual dará lugar a decisões mais racionais, sem a pressão da urgência da pandemia de Covid-19.

Outra grande mudança ocorreu na dinâmica de descoberta de novas vacinas. Muitos podem criticar a velocidade no processo de desenvolvimento, mas o que vimos em 2020 deverá ser o “novo normal”.

As tecnologias científicas têm sido velozmente aprimoradas. Hoje há ferramentas capazes de planejar mais rápido novas vacinas. É possível testá-las com mais eficiência e celeridade. Os meios para inventar produtos seguros são mais numerosos. Os testes clínicos podem ser mais velozes, sem abrir mão de avaliações imprescindíveis de segurança e rigor científico na análise.

O início das primeiras campanhas de vacinação contra a Covid-19 tem sido abraçado e comemorado como uma importante vitória da ciência, abrindo portas importantes para um futuro controle da pandemia.

Entretanto, não é demais repetir: os países que estarão mais protegidos de ameaças por agentes infecciosos no futuro serão os que mais investirem no ensino, pesquisa, inovação e desenvolvimento tecnológico. O Brasil é capaz de realizar ciência de qualidade, desde que haja visão estratégica e vontade de encarar o desafio.

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