Esper Kallás

Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

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Esper Kallás

As surpresas da monkeypox

Com resposta modesta, o Brasil vê o número de casos aumentar

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Ao lado do aumento do número de casos, o conhecimento sobre a monkeypox cresce e começam a aparecer as surpresas.

Embora seja uma doença descrita há décadas, que era mais restrita à África, onde recursos são muito limitados, a falta de interesse no vírus e nas suas consequências seguiram o padrão de uma doença que foi até então negligenciada.

Já são mais de 31 mil casos no mundo, cerca de 3.000 deles no Brasil. Médicos estão vendo mais pacientes chegando com a doença, o que sugere que o número continuará crescendo.

Como esperado, já aumentam os relatos de infecção em mulheres e crianças, confirmando a previsão dos especialistas. Embora a maior transmissão tenha começado em homens que fazem sexo com outros homens, era questão de tempo para que a disseminação chegasse também a outros grupos. Afinal, este é o roteiro que se desenrola para as doenças que podem ser transmitidas pelo sexo.

Lesão parecida com espinha na mão é, na verdade, uma manifestação da varíola dos macacos
Lesão parecida com espinha na mão é, na verdade, uma manifestação da varíola dos macacos - Arquivo pessoal

Sabemos, ainda, que a transmissão da monkeypox não se dá somente durante as relações sexuais. Os casos em crianças sugerem que o contato muito próximo dentro de casa também pode transmitir o vírus. Alguns profissionais de saúde também adoeceram depois de sofrerem acidente com agulhas ou outros materiais contaminados com secreções de pacientes infectados.

Recentemente, foi identificado o primeiro caso de transmissão de uma pessoa para seu cachorro de estimação. Este fato gerou a recomendação para que seja adotado o distanciamento de animais de estimação. Até que ocorram novos casos e mais estudos para entendermos como os animais domésticos podem estar envolvidos, não saberemos a real importância deles na cadeia de transmissão da doença.

Aparentemente, alguns pacientes podem eliminar o vírus, tanto de algumas lesões como de alguns fluidos do corpo, por tempo mais prolongado. Foi o que ocorreu com um paciente identificado na Itália, com indícios de vírus presente no sêmen por cerca de três semanas.

Algumas complicações da doença trazem preocupações adicionais. Embora as mortes sejam raras, algumas apresentações chamam a atenção, dependendo do local acometido. Algumas lesões no olho, por exemplo, podem levar à perda da visão. Lesões genitais podem ser muito incômodas, especialmente pela dor intensa.

As feridas causadas pelo vírus também podem servir como porta de entrada para bactérias, ampliando a gravidade do caso. Essa parece ter sido a causa da primeira morte relatada no Brasil. Um paciente com câncer pegou monkeypox. Depois, foi diagnosticado com infecção generalizada, após contaminação de algumas das lesões da pele.

Há poucos casos em grávidas. Alguns resultaram em perda fetal, malformações e crianças que nasceram com a doença, acendendo a luz vermelha para este grupo, que merece atenção especial.

Com o crescente número de casos, nos resta estudar cada um com o devido cuidado. Precisamos entender quais as formas de transmissão, por quanto tempo o vírus pode permanecer no corpo e por quanto tempo pode ser transmitido. Ainda não sabemos quais as principais complicações da doença e como podemos evitar que se espalhe.

Mesmo sabendo que existem medicamentos eficazes sendo usados em alguns países, ainda não há tratamento disponível para os brasileiros.

Mesmo sabendo que há países onde já estão disponíveis não há previsão, por aqui, de vacinas suficientes para os mais vulneráveis.

Infelizmente, a reação brasileira à nova ameaça não vem como uma grande surpresa. A discussão segue modesta, como tem sido a reação à disseminação da doença, no país que ocupa o quinto lugar no mundo em número de casos.

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