É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.
Fittipaldi, 40
Fazia calor naquele 12 de janeiro de 1975 em Buenos Aires. Nada que afastasse o público: o autódromo estava lotado para a abertura do campeonato.
No grid, 23 carros. E uma grande novidade, que atiçava a curiosidade de todos: o Copersucar-Fittipaldi.
Wilsinho alinhou na última posição, com um tempo quase 11 segundos mais lento que o da pole position. Não importava. Era um início de história, de aventura, de sonho. Construído num galpão diante do portão 7 de Interlagos, o FD01 estava pronto para correr.
Importou mais o abandono na 13ª volta. As imagens daquele carro prateado, número 30, em chamas junto ao guard-rail, são de cortar o coração –o vídeo está na internet, é fácil de achar.
Mas o ânimo era grande. A turma não se abalou. E duas semanas depois, lá estava o FD02 alinhado para seu primeiro GP Brasil.
O primogênito dos Fittipaldi largou em antepenúltimo e conseguiu uma façanha. Levou o carro até a bandeirada, só uma volta atrás dos líderes. Um motivo a mais para festejar: lá na frente, dobradinha Pace-Emerson, a primeira do país na categoria.
Foi uma exceção. Os GPs seguintes seriam duros, e o time não conseguiu se classificar para três corridas.
Para 1976, era preciso uma chacoalhada. Foi um ano de mudanças radicais.
Decisão que chocou a F-1, Emerson trocou a McLaren e a chance de conquistar novos títulos pelo volante do FD04. Ingo foi segundo piloto em quatro corridas. Wilsinho passou para os bastidores, ficou na administração do negócio. O time mudou sua base para a Inglaterra, para facilitar a logística e o contato com os fornecedores.
As coisas melhoraram, mas o vaticínio de Emerson ("em dois ou três anos, estaremos entre as melhores equipes da F-1") nunca se concretizou.
A tão sonhada vitória, por exemplo, nunca veio: foram três pódios, o mais festejado deles pelo segundo lugar do bicampeão em Interlagos, em 1978.
Mas é uma injustiça tremenda, além de besteira histórica, tratar a Fittipaldi como piada.
Foram 103 GPs, marca que supera muito time mais badalado –apenas 28 equipes na história da F-1 romperam a barreira centenária. Para citar casos mais recentes, a Caterham disputou 56 corridas e a Marussia correu 55.
Até 1982, quando fechou as portas, revelou gente que depois fez bonito na categoria: Divila, Newey, Postlethwaite, Rosberg. Isso chama legado.
O sonho acabou, as dívidas explodiram, os irmãos ficaram quebrados, sofreram para se reerguer. Mais: levou tempo para que reconquistassem o respeito.
(Como se tivessem desrespeitado alguém...)
Na próxima segunda-feira, 12 de janeiro, a estreia da equipe Fittipaldi completará 40 anos.
Se você é brasileiro e gosta de automobilismo, não se acanhe: pode sentir uma pontinha de orgulho.
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