É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.
Ícones
Quem chega à praia de São Conrado vindo pela Niemeyer, a mais bonita avenida do mundo, se impressiona.
O Hotel Nacional, ícone do Rio de Janeiro nos anos 70 e 80, ganhou novos ares.
Revitalizado para os Jogos Olímpicos, teve refeita sua fachada envidraçada. Está lindo.
Ainda falta muita coisa, mas é gratificante passar por ali e não enxergar mais o esqueleto abandonado de um lugar que já viveu dias gloriosos. Ao todo, o prédio ficou fechado por 19 anos. A reinauguração deve acontecer até o fim deste semestre.
O que isso tem a ver com automobilismo? Muita coisa.
Por vários e vários verões, o Nacional foi a casa da F-1. Todo mundo ficava ali.
Era a época em que Jacarepaguá recebia testes de pneus antes de abrir as temporadas da categoria. Nas semanas que antecediam a corrida, dirigentes, engenheiros, pilotos e mecânicos zanzavam pela cidade e pelos corredores daquele cinco estrelas defronte ao mar.
Pilotos eram menos atletas, a imprensa era menos invasiva. A piscina bombava. Os bares varavam a madrugada. O entra e sai era constante.
Acho que dá para imaginar o desbunde.
Amores temporãos nasciam e morriam naquelas semanas de Rio de Janeiro. Tanto que, até hoje, veteranos da F-1 lamentam a volta da categoria para São Paulo, no começo dos 90.
Era no Nacional que funcionava o centro de credenciamento para a imprensa. Era no Nacional que aconteciam os grandes jantares de patrocinadores. Era do Nacional que saiam vans e helicópteros para Jacarepaguá.
Jacarepaguá. Que não existe mais.
Se é verdade que a reforma do Nacional provoca sentimentos bons, o oposto acontece ao lembrar do que aconteceu com outro ícone do Rio: o autódromo.
Pulverizado para dar espaço ao Pan-Americano de 2007 e, depois, aos Jogos de 2016, o circuito não deixou lembranças.
Os últimos resquícios eram as bilheterias e arquibancadas, que viraram pó ao longo de 2015.
Viraram pó, também, as promessas do governo federal e da Prefeitura do Rio de construção de um novo autódromo, na região de Deodoro.
O projeto está há meses parado na Justiça, enrolado em licenças ambientais e questionamentos do Ministério Público.
Três anos depois da assinatura de um compromisso entre União, prefeitura e Confederação Brasileira de Automobilismo, o terreno não recebeu um centímetro de asfalto.
Mantenho a linha que já defendi aqui algumas vezes: se a Prefeitura do Rio quisesse um autódromo, não teria destruído o que já existia. O Parque Olímpico poderia ter sido erguido em outro lugar –não faltam terrenos livres na zona oeste da cidade.
Em agosto, o Nacional estará novamente lotado de gente que descerá suas rampas com destino a Jacarepaguá. É irônico. É triste.
A Olimpíada é muito bem-vinda. Será histórica.
Mas, além dos milhões de reais, o Parque Olímpico teve um custo esportivo: o fim do automobilismo carioca, um tiro dolorido no esporte a motor brasileiro.
Não tinha que ser assim.
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