É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.
Schumacher e a grávida de Taubaté
Mataram o Schumacher nesta semana.
Algumas vezes. Em dias diferentes. Nas redes sociais e até em alguns sites.
Levei algum tempo para detectar onde começou o boato. Estou levando muito mais tempo, admito, para compreender como as pessoas espalham essas mentiras.
A internet revolucionou o mundo e, por consequência, o jornalismo.
Fecho o escopo no automobilismo. Vinte anos atrás, as fontes de informação eram os jornais, as revistas, o rádio e a TV. Apaixonados pelo esporte que queriam se atualizar gastavam uma boa grana comprando "Autosprint" e "Autosport" nas poucas bancas que as recebiam –com atraso de uma semana, no mínimo.
A internet acabou com isso, ainda bem. A vida ficou mais fácil. A informação está a um clique. É móvel. Cabe no bolso. É de graça.
Há muito conteúdo, sobre tudo. O que deveria ser ótimo. Mas nem sempre é.
Porque, em meio ao tsunami de notícias e estatísticas há muitíssimo lixo.
A "morte de Schumacher" expõe dois vícios.
O primeiro, má fé de um site em busca de pageviews. Alguém requentou uma série de notícias velhas sobre o alemão, citou uma "fonte anônima" e jogou na internet a tese de que a vida dele está por um fio.
Some-se a isso uma declaração óbvia dada por Todt no fim de semana, num evento na Itália. "Schumacher está enfrentando a maior batalha da sua vida" é o discurso padrão do presidente da FIA desde o acidente do heptacampeão, em dezembro de 2013.
Vem aí o segundo vício. As pessoas juntaram lé com cré e começaram a replicar a "informação" nas redes sociais sem o menor pudor.
Alguém aqui já havia ouvido falar do "Newseveryday", o tal site americano que inventou a história? Ou no "Diez", jornal hondurenho (!!) que citou "diversas fontes" para noticiar que o tratamento do piloto tem custos milionários? (Como se fosse alguma novidade.)
Isso não importa. Credibilidade, hoje, ficou em segundo plano. O que importa é retuitar logo, é postar primeiro no Facebook, é mostrar que está antenado, é não ficar para trás no grupo do Whatsapp.
Schumacher está vivo. É tudo o que sabemos. Já faz um ano que a família não solta um comunicado sobre seu estado de saúde.
O último boletim informava que sua recuperação era lenta e agradecia a torcida dos fãs.
De lá para cá, mais nada. Todo o resto é espuma, é boato, é mentira.
São o "Tourist Guy", a "grávida de Taubaté" e o "gatinho engarrafado" mandando lembranças direto da sua timeline.
Desconfie sempre. A outra opção é fazer papel de bobo.
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