Fernando Ganem

Médico cardiologista, é diretor geral do Hospital Sírio-Libanês e coordena o programa de residência de clínica médica da instituição

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Temos que quebrar o paradigma da vacina contra a Covid

Todos precisam de imunizante, não importa a marca ou origem, desde que aprovado

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Dados atuais mostram que mais de um quarto da população mundial já recebeu pelo menos uma dose da vacina contra Covid-19. Em números, estamos falando de mais de 4 bilhões de doses.

Quase 35,6 milhões de doses são administradas todos os dias, segundo o portal Our World in Data. São avanços enormes da ciência, da sociedade e para o futuro da humanidade. Nunca se desenvolveu tão rapidamente uma vacina nem se as produziu numa escala e rapidez como estamos vendo hoje.

No entanto, nossa jornada nessa pandemia ainda está longe de terminar. O desafio é uma corrida contra o tempo. Quanto mais pessoas vacinadas, menos o vírus circula. Quanto menos vírus circulante, menos mutações se desenvolvem e menos variantes surgirão. Assim, maior a chance de as vacinas conseguirem, por fim, controlar a disseminação do Sars-CoV-2.

A eficácia de uma vacina está na sua capacidade em diminuir transmissão, e, principalmente, o desenvolvimento de formas graves da Covid-19, internações e mortalidade.

Esse objetivo que parecia tão distante há 15 meses está hoje ao nosso alcance. Mas onde a ciência avançou tão rapidamente, o mundo em sociedade não teve o mesmo desempenho. Apenas 1,1% da população em países de baixa renda recebeu pelo menos uma dose da vacina, como ocorre no Congo, no Iêmen e em Papua Nova Guiné, de acordo com os dados do New York Times.

Enquanto isso, países desenvolvidos, como Estados Unidos e Alemanha, já vacinaram completamente, com duas doses, 49 % e 51% das suas populações, respectivamente. Na América do Sul, foram vacinados 64% no Chile, 63% no Uruguai e 19% no Brasil.

Esses índices refletem mais do que apenas a disponibilidade de produto. Em alguns lugares do mundo, não há falta de vacina, mas ausência de demanda. Desinformação, movimento antivax, motivos religiosos ou pessoais podem ser responsáveis pela desconfiança, mas não vamos avançar como sociedade se não conseguirmos superar esse desafio e ampliar o alcance dos imunizantes.

O princípio de enxergar a população como uma unidade é a base de diferentes ideologias, mas para o objetivo coletivo de controlar o vírus Sars-Cov-2, trata-se de uma condição para o êxito. No fim do mês de janeiro, o Sírio-Libanês publicou um parecer do seu comitê de bioética que deixou claro que o princípio da equidade é fundamental para uma saúde pública, além de importante pilar de sustentação do Sistema Único de Saúde (SUS).

“A equidade refere-se a oferecer mais a quem precisa mais, procurando investir mais onde a vulnerabilidade é maior”, diz o parecer. Ou seja, vacinar os mais vulneráveis primeiro ajudará a reduzir hospitalizações e sofrimentos.

O princípio de apoio à saúde pública é algo que o Hospital Sírio-Libanês conhece bem, sendo responsável hoje por mais de 500 leitos em unidades do SUS, quase a mesma quantidade que gerencia na saúde privada.

Esse princípio de colaboração fomentou também a busca de conhecimento. Nacionalmente, a colaboração foi a base para a formação da Coalizão Covid-19 Brasil, um grupo formado por seis hospitais e duas redes de pesquisa para desenvolver mais de nove estudos para entender como tratar as infecções provocadas pelo Sars-CoV-2.

É fato que precisamos de pessoas imunizadas, pois só assim vamos evitar as variantes que podem comprometer a eficácia das vacinas disponíveis. Mas temos hoje países com muita oferta e pouca demanda, e outros com muita demanda e pouca oferta.

Temos que quebrar esse paradigma da vacina. Todos precisam se vacinar. Todos precisam de vacina, não importa a marca ou origem, desde que aprovada pelos órgãos regulatórios. Mas será a solidariedade que nos guiará para além da pandemia, atos guiados pela busca de compreensão e cooperação que permitirão criar a coesão social que forma nossa sociedade.

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