Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

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Caso Lula resume os privilégios que mantêm Brasil no atraso

Comoção com petista e proteção a servidores contam uma mesma história ruim

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De um lado, um ex-presidente famoso e condenado em duas instâncias que faz o STF parar tudo para analisar seu caso. De outro, 290,4 mil pessoas presas provisoriamente, sem qualquer julgamento, em um sistema com duas vezes mais detentos do que vagas.

De um lado, 1 milhão de servidores inativos que geram déficit anual de R$ 86 bilhões para a Previdência. De outro, 33 milhões de aposentados privados que consomem R$ 180 bilhões, fazendo com que o custo de um único servidor inativo seja igual ao de 15 aposentados privados.

Lula tem 36% das intenções de voto e fez muito pelos pobres. É natural que exista comoção. Mas ele foi condenado, recorreu, foi condenado novamente, tentou embargos e, agora, o habeas corpus. Deveria ser natural que fosse preso.

Em vez disso, o STF pode acabar revisando a prisão de condenados em segunda instância, contrariando votação do próprio plenário (6 a 5) em 2016. Lula não apenas se safaria como abriria a porteira para, no limite, liberar gente como Sérgio Cabral e Eduardo Cunha.

No futuro próximo, quando muitos dos implicados em processos (Temer, Jucá, Padilha) perderem o fórum especial (outro ícone dos privilégios locais), eles também estariam livres até o julgamento em instâncias superiores que pode levar décadas —Paulo Maluf que o diga.

Já no Brasil das corporações de servidores, a reforma da Previdência afetaria especialmente quem ganha mais na casta do funcionalismo. Enquanto aposentadorias privadas não passam de R$ 5.645, as do Judiciário e Legislativo vão de R$ 18 mil a R$ 28,5 mil.

Seria natural aqui também que o setor público perdesse mais para que Previdência, saúde e educação universais, com cada vez menos recursos que acabam no bolso de inativos, continuassem viáveis para todos.

Mas os privilégios seguem mantidos. Justamente dos que já passam a vida ganhando 60% a mais que seus correspondentes na iniciativa privada, com estabilidade no emprego que os livra de ciclos de baixa.

O caso Lula e a Previdência são os temas quentes atuais na política e economia. Eles poderiam ter um fim que beneficiasse a maioria. Mas só reforçam a mesma história ruim: de um país atrasado pelos privilégios de poucos que acabam com a previsibilidade das regras e o futuro dos demais.
 

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