Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

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Fernando Canzian

Brasil precisa de mais abertura e capitalismo, não de menos

Eleitor deve desconfiar dos que prometem aumentar a proteção às empresas nacionais

O Brasil segue como um dos países mais fechados do mundo e há décadas nossas empresas se aproveitam disso para manter margens de lucro elevadas e salários baixos, minando de forma estrutural o potencial de crescimento.

Estudo do NBER (National Bureau of Economic Research), renomado órgão de pesquisa dos EUA, revela agora como as companhias brasileiras sempre mantiveram margens elevadas enquanto empresas de outros países levaram quase 40 anos de fusões e aquisições para concentrar suas atividades, dominar mercados e elevar a lucratividade.

No geral, o quadro mundial pintado pelo NBER é péssimo para trabalhadores e consumidores por conta do surgimento de megaempresas globais capazes de fixar preços e elevar margens sem repassar proporcionalmente ganhos maiores a seus empregados.

Os pesquisadores analisaram o histórico de quatro décadas do chamado “markup” (preço de venda de um produto em relação ao seu custo de produção) de 70 mil companhias em 134 países.

Os dados abaixo mostram o "markup" atual e a variação percentual entre 1980-2016 na média mundial e do Brasil:

Mundo: 1,59 (+0,52%) - Brasil: 1,61 (-0,01%)

Ou seja, enquanto as empresas no mundo tornaram-se monopólios ou ficaram mais concentradas a fim de subir margens e chegar a 1,59 de "markup" (ele era de 1,1 em 1980), o indicador do Brasil ficou igual desde então: em 1,61 e sempre acima da média global de hoje.

A maneira mais rápida de reduzir o poder de fogo e a concentração de empresas em dezenas de setores seria o Brasil se expor mais ao comércio mundial, com importações que obrigariam as companhias locais a competir por consumidores em um sistema mais aberto e capitalista de fato.

Mas o comércio exterior brasileiro equivalente hoje a 27% do PIB. E cresceu pouco em relação aos 22% no ano 2000. No mesmo período, na média das economias desenvolvidas, esse indicador saltou dez pontos, para 56,6%.

No Chile, que elevou seu grau de abertura nas últimas décadas para 41% do PIB, o “markup” das empresas é menor do que o brasileiro: 1,37 (e ele caiu 2,25% desde 1980).

Em trabalho recente, o Banco Mundial calculou que uma maior abertura comercial no Brasil poderia tirar cerca de 6 milhões de pessoas da pobreza a partir da oferta de produtos com melhores preços e mais crescimento econômico.

E que, durante o governo Fernando Collor nos anos 1990, quando o país se abriu rapidamente criticando produtos como as “carroças” produzidas pelas montadoras, o rendimento das famílias mais pobres subiu o dobro em relação ao das mais ricas.

O eleitor deveria ficar de olho em quem fala desse assunto. E desconfiar dos que prometem subsídios e proteção ainda maiores às empresas nacionais.

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