Dados negativos de indústria, comércio e serviços no final de 2019 ofuscaram outra notícia: o mercado de trabalho formal melhorou.
O emprego com carteira assinada é sempre o último a sofrer na crise, pois as empresas relutam em perder pessoas treinadas e arcar com rescisões.
Também é o último a melhorar quando o crescimento dá sinal de vida, pois significa contratar mão de obra mais cara.
Como comparação, a média de rendimentos no mercado formal do setor privado em dezembro foi R$ 2.197, sem contar custos adicionais; no informal, R$ 1.442.
Nos últimos três meses do ano, no entanto, o saldo entre admissões e demissões com carteira assinada no setor privado acelerou.
De outubro a dezembro, o total de empregos formais passou de 33,2 milhões para 33,7 milhões. Os informais mantiveram-se estáveis ao redor de 11,8 milhões e os chamados conta própria, em 24,5 milhões.
Os dois movimentos (mais vagas formais; informais e por conta própria no mesmo patamar) indicam melhora.
O último trimestre de 2019 também mostrou diminuição no total de trabalhadores desocupados ou subocupados, aqueles que desejam trabalhar mais horas e não conseguem —eles diminuíram de 27,1 milhões em outubro para 26,1 milhões em dezembro.
Outro dado relevante refere-se ao desemprego de longa duração, que afeta pessoas que buscam trabalho há pelo menos um ano.
No último trimestre de 2019 havia 4,5 milhões nessa situação —8,6% a menos do que em igual período de 2018.
Por fim, após quase cinco anos de piora ininterrupta, a desigualdade da renda do trabalho deu sinais de que pode estar ingressando em um ciclo de recuperação —com os salários mais baixos começando a subir proporcionalmente um pouco mais do que os mais altos.
Se a tendência do último trimestre de 2019 vai se repetir, ainda é difícil saber.
O Bradesco, por exemplo, aposta nisso e prevê o PIB de 2020 crescendo 2,5% ou mais apoiado na força do mercado de trabalho.
A maior formalização encorajaria o consumo e a tomada de crédito por parte do consumidor, engendrando um círculo virtuoso.
Em outro contexto, com um governo ponderado e articulado politicamente, isso seria bastante factível. Com Jair Bolsonaro e Paulo Guedes agora também dizendo tudo o que pensa, o risco de retrocesso nas expectativas não é desprezível.
Certezas de hoje:
1) Há 11,6 milhões de pessoas desempregadas, ou 11% da força de trabalho;
2) Os rendimentos médios estão demorando a subir;
3) No acumulado de 12 meses, a criação de vagas informais e por conta própria superou aquelas com carteira assinada —tendência revertida no último trimestre;
4) Quase 23% da diferença de geração de vagas formais entre 2018 e 2019 foi de intermitentes (com remuneração proporcional ao período trabalhado) e parcial (com jornada menor do que 44 horas semanais) —modalidades permitidas após a reforma trabalhista.
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