Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Flávia Boggio

O que Tim Maia diria diante da falta de coerência do Brasil atual?

Pelo tabuleiro ouija, o cantor teria esbravejado: 'Vale tudo, mas tem limite'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

“Esse país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita.” Se escrevesse uma mensagem psicografada, Tim Maia diria que sua famosa frase estaria desatualizada.

O síndico, como o apelidavam, estaria perplexo com a falta de coerência do Brasil atual. Pelo tabuleiro ouija, teria esbravejado: “Vale tudo, mas tem limite”, antes de quebrar o copo na parede.

De que adiantou ter gravado três discos racionais mandando ler um livro? Ninguém lê além de manchetes de fake news. Nem o presidente é capaz de ler decretos de 20 páginas.

Ilustração de um palhaço com um tocha de fogo na mão montado em uma pessoa vestindo camisa do Brasil e antolho feito de celular. O palhaço diz "Incoerência o̶u̶ e morte!"
Galvão Bertazzi/Folhapress

Provavelmente mandaria reeditar a citação. Convocaria um reforço de 50 médiuns para anotar suas impressões e indignações com o cidadão brasileiro.

Antes o problema fossem pobres reacionários, traficantes festeiros e profissionais do sexo românticos. Se Tim Maia desse uma volta pelo país, aí sim diria que não poderíamos dar certo. Porque, hoje em dia, aqui:

Liberal é conservador.

Cristão faz arma com a mão.

Pobre paga muito imposto. Rico paga pouco.

Pessoa de direita se muda para país de esquerda.

Brasileiro miscigenado defende supremacia branca.

Cidadão elege corrupto para acabar com corrupção. E pede intervenção militar em nome da democracia.

No auge da pandemia, profissionais de saúde são agredidos.

Governo flexibiliza quarentena com mortes aumentando.

E mata quem ficou em casa.

Ministro do Meio Ambiente desmata. Ministro da Educação não tem educação. Ministra da Mulher é machista. Ministro da Economia culpa pobre por ser pobre. Ministro da Justiça protege criminoso. Ministro da Ciência vende travesseiro da Nasa.

Embaixador do turismo falsifica passaporte.

Chefe de fundação antirracista é racista. Branco privilegiado diz que não existe racismo e diz que todas as vidas importam.

Empresa de direita tem nome de capital cubana.

Presidente tem guru astrólogo que se diz filósofo, mas é terraplanista.

Esse mesmo presidente, no meio de uma pandemia, diz que morte é destino. E faz cidadão sair de casa para receber auxílio para ficar em casa.

Elite apoia fascista e se surpreende porque, realmente, não é que ele é fascista mesmo?

E colunista de humor não tem graça. Com o Brasil de hoje, está complicado.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.