“Esse país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita.” Se escrevesse uma mensagem psicografada, Tim Maia diria que sua famosa frase estaria desatualizada.
O síndico, como o apelidavam, estaria perplexo com a falta de coerência do Brasil atual. Pelo tabuleiro ouija, teria esbravejado: “Vale tudo, mas tem limite”, antes de quebrar o copo na parede.
De que adiantou ter gravado três discos racionais mandando ler um livro? Ninguém lê além de manchetes de fake news. Nem o presidente é capaz de ler decretos de 20 páginas.
Provavelmente mandaria reeditar a citação. Convocaria um reforço de 50 médiuns para anotar suas impressões e indignações com o cidadão brasileiro.
Antes o problema fossem pobres reacionários, traficantes festeiros e profissionais do sexo românticos. Se Tim Maia desse uma volta pelo país, aí sim diria que não poderíamos dar certo. Porque, hoje em dia, aqui:
Liberal é conservador.
Cristão faz arma com a mão.
Pobre paga muito imposto. Rico paga pouco.
Pessoa de direita se muda para país de esquerda.
Brasileiro miscigenado defende supremacia branca.
Cidadão elege corrupto para acabar com corrupção. E pede intervenção militar em nome da democracia.
No auge da pandemia, profissionais de saúde são agredidos.
Governo flexibiliza quarentena com mortes aumentando.
E mata quem ficou em casa.
Ministro do Meio Ambiente desmata. Ministro da Educação não tem educação. Ministra da Mulher é machista. Ministro da Economia culpa pobre por ser pobre. Ministro da Justiça protege criminoso. Ministro da Ciência vende travesseiro da Nasa.
Embaixador do turismo falsifica passaporte.
Chefe de fundação antirracista é racista. Branco privilegiado diz que não existe racismo e diz que todas as vidas importam.
Empresa de direita tem nome de capital cubana.
Presidente tem guru astrólogo que se diz filósofo, mas é terraplanista.
Esse mesmo presidente, no meio de uma pandemia, diz que morte é destino. E faz cidadão sair de casa para receber auxílio para ficar em casa.
Elite apoia fascista e se surpreende porque, realmente, não é que ele é fascista mesmo?
E colunista de humor não tem graça. Com o Brasil de hoje, está complicado.
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