Um dos maiores flagelos da pandemia, além de mortes, negacionistas e pessoas que tiram a máscara para espirrar, foram os golpes pela internet. Um levantamento do Instituto de Segurança Pública mostra que, desde 2020, as fraudes digitais aumentaram mais de 200%.
São trambiques que vão desde pessoas se passando por parentes para pedirem Pix a hackers que invadem celulares após os usuários clicarem em algum link suspeito.
Por mais que nos solidarizemos com os "golpeados", secretamente, nos perguntamos: "Como não suspeitaram que o primo realmente precisava de dinheiro emprestado?". "Como acreditam que um iPhone 13 pode custar R$1.800?" Lá nas profundezas do nosso âmago, pensamos: "Mas que grande otário".
Por outro lado, temos um fascínio pelos golpistas, que usam técnicas de ilusionistas para distrair as vítimas e darem o bote. Seriam ótimos diretores de marketing ou psicólogos.
Eu, como rata de internet, profissional de comunicação, me considerava vacinada contra trambiques, a diferenciada, o alecrim dourado antigolpes. Até que um deles achou meu ponto fraco.
Estava a perder tempo com a vida dos outros no Instagram, quando chegou uma mensagem de uma vinícola que eu sigo: "Vinhos com 30% de descontos. Confira nosso catálogo no link abaixo". Como uma apreciadora de bons vinhos, principalmente vinhos com desconto, cliquei. Nada aconteceu. Na hora percebi que tinha caído em um golpe, mas já era tarde demais. Os hackers tinham tomado posse de todas as chaves de segurança e da minha conta.
Amigos começaram a me mandar mensagens perguntando pelo preço de uma geladeira, uma televisão e um gaveteiro. Concluí que os tratantes estavam usando meu perfil para roubar meus conhecidos. Era um golpe dentro do golpe.
Por mais devastador que seja ter um perfil pessoal invadido por criminosos, por mais que meus amigos se dissessem comovidos com a situação, eu também via, no fundo de seus olhos, que pensavam: "Que grande otária".
Mas o pior, definitivamente, foi ter minha imagem associada a armários espelhados e salas com chão de porcelanato. Isso, sim, foi crime.
Há cinco dias, recuperei minha conta. Vi que a nova mania da rede é postar danças ao som de "Acorda, Pedrinho". Por isso, peço aos hackers que, por favor, tomem posse da minha conta novamente.
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