Guilherme Boulos

Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

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Guilherme Boulos

O partido da Lava Jato ataca novamente

Moro e Dallagnol agora pretendem atuar como candidatos

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Sergio Moro e Deltan Dallagnol anunciaram na última semana a entrada na política partidária. A rigor, já estavam nela mesmo de toga e foram peças-chave para decidir a última eleição presidencial. Agora pretendem atuar como candidatos.

Embora não surpreenda, a decisão revela à luz do dia o projeto de poder que sempre esteve por trás da Operação Lava Jato. Quando o Supremo anulou as condenações de Lula e apontou a suspeição de Moro na condução dos processos, reconheceu institucionalmente a parcialidade do ex-juiz. A parceria Moro/Dallagnol foi decisiva para derrubar Dilma, tirar Lula das eleições e, consequentemente, eleger Bolsonaro, de quem Moro tornou-se ministro da Justiça.

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Movimentação em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC à espera do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Alice Vergueiro - 10.nov.2019/Folhapress

Ao velho estilo udenista, inspirado na República do Galeão de Carlos Lacerda, a dupla instrumentalizou o combate à corrupção para edificar seu próprio projeto político. As práticas ilícitas, a seletividade e a espetacularização midiática da Lava Jato deixavam claro que o objetivo não era a moralidade pública, mas o poder. Os heróis da República de Curitiba queriam mesmo era chegar ao Palácio do Planalto. Como o atalho no ministério de Bolsonaro não funcionou, agora tentam fazê-lo sem mediações.

Mas por que agora? No caso de Moro, é a fome encontrando-se com a vontade de comer. Parte do establishment brasileiro busca desesperadamente uma terceira via à direita. Sonham com um Bolsonaro civilizado, que não cause tantos embaraços e constrangimentos. Querem o mesmo projeto de desmonte neoliberal do Estado, mas com outro comandante.

Homem com máscara de Moro em ato contra a soltura de Lula - Bruno Santos - 9.nov.2019/Folhapress

Moro pode fazer esse papel. E com duas vantagens sobre os demais nomes da terceira via: já tem uma elevada taxa de conhecimento nacional e tem potencial de disputar parte da base bolsonarista, porque ambos se originam do mesmo caldo de antipolítica. A condição da terceira via é ter alguém capaz de tirar votos de Bolsonaro. Sem isso ela não para em pé.

Mesmo que não tenha condições de fazer grandes alianças partidárias, Moro possivelmente contará com apoio de setores do mercado e da mídia. Seu balão de ensaio presidencial tende a ser incensado nos próximos meses. Se decolar, vão com ele, senão o ex-juiz ainda tem o plano alternativo de candidatar-se ao Senado.

O Brasil precisa tirar lições dessa trama digna de House of Cards. Primeiro, que o combate à corrupção é coisa muito séria para ficar refém de oportunistas com projetos de heroísmo pessoal. Segundo, que não existe saída fora da política, feita nas eleições e nas ruas. A antipolítica não cura os males da democracia, ela os aprofunda. Moro ajudou a eleger Bolsonaro, agora quer sucedê-lo reeditando o mesmo heroísmo farsesco. Francamente, acredito que o país já sofreu o suficiente para repetir a história.

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