Gustavo Alonso

Doutor em história, é autor de 'Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira' e 'Simonal: Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga'.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Gustavo Alonso
Descrição de chapéu YouTube internet

Depois dos radialistas, influenciadores impulsionam sucesso do sertanejo

Mediadores, que ocupavam jornais, rádios e revistas e hoje estão na internet, fazem ponte entre artistas e público

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Quando se procura explicar o sucesso comercial da música sertaneja, muitos analistas enfatizam o poder do dinheiro e do agronegócio como fundamentais. Há verdade nesse argumento, mas quase sempre esse caminho explicativo fácil acaba apagando um personagem fundamental que faz a ponte entre artistas e público.

No tempo da indústria fonográfica e da imprensa tradicional, esse papel de mediador era ocupado pelo crítico musical e pelos jornalistas, muitos dos quais trabalhavam em jornais e revistas. Estes personagens filtravam a grande quantidade de produtos musicais e selecionavam aqueles que julgavam os mais representativos para serem colunáveis e terem reportagens produzidas.

Imagem do influenciador Dudu Purcena, que fala sobre música sertaneja em suas redes
Imagem do influenciador Dudu Purcena, que fala sobre música sertaneja em suas redes sociais - @dudupurcena no Instagram

Ao selecionar artistas e argumentos estéticos legitimadores, os jornalistas e críticos musicais acabavam ajudando, e em parte condicionando, a escuta dos leitores.

O público da música sertaneja nunca foi exatamente o mais letrado, especialmente até a ascensão do chamado sertanejo universitário nos anos 2000.

Até esse período, os mediadores eram essencialmente radialistas. Nomes como Zé Bettio, rei do sertanejo na Rádio Record de São Paulo, foram fundamentais para a carreira de alguns artistas, como por exemplo Chitãozinho e Xororó. O filho do radialista, José Homero Bettio, até se tornou empresário dos irmãos nos anos 1970.

Mas com a ascensão da geração do sertanejo universitário, novos mediadores foram necessários. E aí surgiram dois nomes fundamentais nas redes sertanejas até hoje.

O blog Universo Sertanejo, criado pelo jornalista André Piunti, nasceu em 2007 para tratar de assuntos relacionados ao mercado da música sertaneja. No mesmo ano foi criado o Blognejo, por Marcus Vinicius Bernardes, outra referência fundamental na internet, funcionando até os dias de hoje.

Piunti começou seu blog como projeto de conclusão de curso de jornalismo. Bernardes tinha 22 anos quando começou. Ambos eram tão jovens quanto os músicos que adoravam.

Quando surgiram, os blogueiros tinham um papel analítico em relação ao que era produzido, atuando como verdadeiros críticos no mundo digital. Elegiam grandes canções e discos, opinavam sobre as trajetórias dos artistas e faziam análises sobre a música sertaneja.

Com o tempo, o meio sertanejo percebeu que os blogueiros eram fundamentais para o sucesso das duplas. Com a criação de escritórios de empresariamento de artistas, os blogueiros foram se tornando mediadores cada vez mais escorados na estrutura digital sertaneja.

Caso paradigmático, em 2009 o blog de Piunti passou a fazer parte do UOL, onde ficou até 2014. O que era mídia periférica, tornou-se mainstream.

A partir da segunda década dos anos 2000 começaram a surgir outros mediadores, igualmente jovens, que se utilizavam de novas estruturas. Com a disseminação geral da internet, os blogs foram superados.

A nova geração surgiu fazendo vídeos de YouTube e ocupando as redes sociais. Dudu Purcena é um dos nomes de destaque, criador do canal Alma Sertaneja em 2016. Há outros canais também importantes como o de Fidelis Falante, de Matheus Fidelis, o Sertanejeiro, de Renato Fernandes e a TV Meu Sertanejo, do Müller Bento. Todos eles com milhares de seguidores nas redes sociais.

Um dado curioso é que todos esses mediadores são eles mesmos oriundos do interior. Piunti é de Campinas, no interior de São Paulo, Bernardes de Uberlândia, em Minas Gerais, e Dudu de Quirinópolis, em Goiás. Os mediadores da música sertaneja não moram mais nas capitais do Sudeste, como na época de Zé Bettio.

Todos eles fazem parte da geração da internet sertaneja que pode ser chamada de influenciadores digitais. Ter boas relações no meio digital hoje é tão importante quanto ter um bom empresário ou boas composições.

E a atuação destes influenciadores é importantíssima no mundo atual, cada vez mais inflado de produtos que precisam ser filtrados, caso contrário provavelmente morreríamos afogados de tanta produção. Esse é o papel do mediador.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.