Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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150 anos da 'Revolução Marginalista'

Contribuição de Menger fundou a Escola Austríaca e é o pilar da economia contemporânea

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Este ano de 2021 representa o sesquicentenário da chamada “revolução marginalista” na ciência econômica, que suplantou a Escola Clássica e deu origem à escola neoclássica e à Escola Austríaca de Economia.

A efeméride se refere à articulação independente e quase simultânea —por Carl Menger, William Stanley Jevons e Léon Walras— dos princípios da utilidade marginal decrescente e da teoria subjetiva do valor, pilares centrais da atual mainstream (a ciência econômica mais ensinada nas universidades ao redor do mundo).

Durante milênios, pensadores como Platão, Copérnico e Adam Smith fracassaram em explicar o paradoxo do valor: por que uma garrafa d’água vale menos no mercado do que um quilate de diamante, que é menos importante e útil que a água? Os pensadores estavam aprisionados à convicção de que o valor de um bem deveria guardar relação umbilical com sua utilidade.

Menger demonstrou que a satisfação propiciada por uma unidade de um bem é avaliada pelo indivíduo, subjetivamente, segundo a utilidade daquela unidade concreta (a unidade “marginal”) adquirida.

Não está em jogo passar a vida toda sem água ou sem diamante, caso em que a água valeria todo o dinheiro do mundo. Na prática do dia a dia, o indivíduo normalmente já tem acesso a água. Portanto, a utilidade de uma garrafa adicional é pequena, ao passo que a utilidade de um diamante pode lhe parecer alta, em particular se não possuir nenhum.

A adoção do subjetivismo e do individualismo metodológicos descritos acima inverteu a seta causal defendida pela Escola Clássica. Na visão do clássico David Ricardo, a causalidade no valor dos bens se dava no mesmo sentido que a produção. Recursos naturais (ex: minério, carbono) são usados para produzir bens intermediários (ex: aço, alumínio), que, por sua vez, são transformados em um bem final (ex: smartphone) que atende às necessidades do consumidor.

Para Ricardo, o valor dos recursos naturais determinava o dos bens intermediários, que, por sua vez, determinava o valor do bem final que o consumidor comprava. Derivou daí a teoria ricardiana de que o valor é atrelado ao custo de produção, que Karl Marx adotou para sua teoria do valor-trabalho.

Ambas as teorias foram refutadas pela revolução marginalista. Em 1871, em seu “Grundsatze” (“Princípios”), Menger demonstrou que a seta causal era a oposta: a partida do processo é a determinação (inter)subjetiva do valor do bem final pelos consumidores.

Por outras palavras, o valor não tem a ver com o custo, com o trabalho envolvido, ou com as propriedades inerentes do bem, mas é determinado por sua utilidade marginal para o consumidor. A partir daí, os preços dos bens intermediários e dos recursos naturais são derivados (ou “imputados”), sucessivamente ao longo da cadeia, de trás para a frente, a partir da avaliação do bem final pelo consumidor.

No nascimento, em 1871, a Escola Austríaca e a escola neoclássica pareciam dividir a mesma forma de ver o mundo. Com o tempo, ficou aparente que o ramo neoclássico considera a economia uma ciência exata e a Escola Austríaca julga o ser humano, imperfeito e temperamental, como ponto primeiro e central de todo o processo econômico.

São visões irreconciliáveis, refletidas em diferentes métodos para conduzir a ciência. A maior parte das contribuições da Escola Austríaca foi incorporada ao mainstream. Mas a diferença de visões persiste e não foi totalmente resolvida.

Apesar de a Escola Austríaca ser minoritária comparada aos neoclássicos, é a escola econômica mais antiga e a que mais cresce no mundo desde a falência da Curva de Philips, nos anos 1970, processo acelerado a partir da crise de 2008.

Depois de 150 anos da “Revolução Marginalista”, Menger vive, e seu método para as ciências sociais ainda procura uma refutação.

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