Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

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Helio Beltrão

A desmaterialização dos países ricos é uma bênção tecnológica

Países em desenvolvimento precisam crescer bem antes de fazer mais com menos

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Nas discussões sobre meio ambiente há uma tendência preocupante que pode atrapalhar a prosperidade dos países em desenvolvimento e do Brasil.

Persiste uma crença comum, malthusiana, de que o crescimento econômico necessariamente leva a um maior consumo de matérias-primas e energia. Consequentemente, cada vez mais vozes defendem que o mundo deve reprimir o crescimento econômico e o consumo com o objetivo de diminuir a pegada no planeta.

O pressuposto nunca questionado é "consumir mais produtos aquece o planeta", como afirmou o colunista do Financial Times Simon Kuper. Se a ideia ganhar tração, o Brasil e outros países serão condenados ao subdesenvolvimento.

Linha de montagem de caminhões em São Bernardo (SP) - Foto: Eduardo Knapp - 8.jan.21/Folhapress - Folhapress

A crença, no entanto, é equivocada. Algo contraintuitivo e promissor tem ocorrido desde 1970. Estados Unidos, Reino Unido e outros países ricos estão consumindo cada vez menos materiais, metais, papel, petróleo, energia. É a desmaterialização: uma menor pegada humana, em múltiplas dimensões.

Jesse Ausubel, em "The Return of Nature – How Technology Liberates the Environment" (2015), mostra que nas últimas décadas a produção de milho nos Estados Unidos tem crescido continuamente, ao passo em que a área plantada pouco cresceu. Em 2018, os Estados Unidos produziram 2,6 vezes mais milho por hectare do que em 1970. O dado mais surpreendente é que o uso de fertilizantes, água e defensivos químicos diminuiu em termos absolutos, embora a produção tenha mais que triplicado. Malthus ficaria embasbacado.

A desmaterialização não se limita ao milho e outros cereais. Aço, cobre, lenha, alumínio, papel: o consumo americano de cada um destes itens já ultrapassou o pico e está em declínio há cerca de vinte anos, a despeito do aumento populacional e do pujante crescimento econômico.

Ausubel demonstra que nos Estados Unidos, entre 100 commodities, 36 já alcançaram o pico de consumo absoluto; outras 53 atingiram o pico em proporção do PIB.

Está ocorrendo nos países ricos uma admirável dissociação entre a produção de bens de consumo (PIB) e o uso de matérias-primas. Um exemplo são as latinhas de alumínio de cervejas e refrigerantes (330 ml). Quando introduzida, a lata de alumínio (um avanço versus as pesadas latas de folha de flandres) pesava 85 g. Algumas décadas depois, em 2011, o peso chegou a 13 g. Em 2012, a Ball Corporation anunciou redução para 9,5 g. A energia economizada também é brutal. É uma estupenda dinâmica de maior produção (e consumo) de bens finais com menor consumo de matérias-primas e energia, como afirma o autor de "Mais Com Menos", Andrew McAfee.

O argumento de que está se exportando a produção não se sustenta, segundo o autor, já que a importação de produtos finais intensos em recursos é uma parcela muito pequena da economia americana.

A inovação caminha mais rápido que o crescimento do PIB. O mundo tem ficado mais verde desde 2015 pela primeira vez desde a revolução industrial; os Estados Unidos devolveram à natureza desde 1982 uma área maior que a do Ceará.

Mas isto ainda não ocorre nos países em desenvolvimento. Além da incompetência de nossa governança pública, a tecnologia que podemos arcar é em geral menos avançada e mais suja, pois somos mais pobres. Mesmo na agricultura, na qual somos avançados, nossa produtividade mais baixa, e péssima infraestrutura exigem mais terra para o plantio. É preciso enriquecer para desmaterializar.

Desde 2000, Estados Unidos, Alemanha, França, e outros ricos emitem cada vez menos CO2; e não por conta de conferências do clima.

A desmaterialização demonstra que é muito mais custoso diminuir as emissões de CO2 em um país em desenvolvimento. No Brasil, as emissões são baixas, muito vinculadas ao desmatamento, e já reduzimos desde 2005 uma boa parte do compromisso para 2030. A prioridade por aqui deve ser a criação de riqueza.

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