Helio Mattar

Diretor-presidente do Instituto Akatu, foi secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (1999-2000).

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A importância do uso consciente de antibióticos

A maneira como você consome medicamentos está diretamente relacionada ao surgimento de superbactérias

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Alexander Fleming não apenas descobriu a penicilina. O biólogo escocês que revolucionou a indústria de remédios também foi o primeiro a advertir sobre os riscos da utilização indiscriminada da substância: em 1945, em seu discurso ao receber o Prêmio Nobel, ele destacou que as pessoas não deveriam abusar dela, sob o risco de torná-la ineficaz. Hoje, mais de sete décadas depois, ainda é preciso educar e conscientizar a sociedade sobre os malefícios do uso excessivo e/ou incorreto dos antibióticos.

Os danos mais críticos de um uso inadequado de antibióticos dizem respeito aos impactos negativos à própria saúde humana. O seu uso indiscriminado pode afetar negativamente as bactérias benignas que contribuem para o bom funcionamento do organismo humano, como, por exemplo, as que equilibram a flora intestinal.

Medicamentos em loja da Droga Raia, em São José dos Campos (SP)
Medicamentos em loja da Droga Raia, em São José dos Campos (SP) - Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress

O uso exagerado pode também aumentar a resistência das bactérias causadoras de doenças, tornando o medicamento ineficaz no seu combate. E, ainda mais grave, pode fazer com que as bactérias, na busca por sobreviver aos antibióticos, sofram mutações, provocando o surgimento das chamadas “superbactérias”, resistentes a vários medicamentos e capazes de gerar infecções dificílimas ou até impossíveis de serem combatidas.

Pouco se pensa sobre isso, mas a resistência aos antibióticos é uma das maiores ameaças que enfrentamos como comunidade global. Isso não está no radar das pessoas, mas, atualmente, infecções que não respondem a remédios já são responsáveis por pelo menos 700 mil óbitos por ano –deste total, 230 mil são causados por formas de tuberculose capazes de sobreviver a antibióticos.

E os números tendem a piorar. De acordo com um estudo da Interagency Coordination Group on Antimicrobial Resistance, doenças resistentes a medicamentos poderão causar a morte de 10 milhões de pessoas no mundo anualmente, até 2050. Isto equivale à perda de uma população de Portugal a cada ano.

Já as Nações Unidas apontam que, até 2030, a resistência aos antibióticos poderá levar 24 milhões de pessoas (o equivalente à população da Austrália) à pobreza extrema, devido a aumentos com os gastos de saúde e a prejuízos para os sistemas alimentares, pois as superbactérias podem prejudicar a criação de animais e outros setores agrícolas.

É preciso ressaltar que o uso inadequado ou exagerado dos antibióticos é muitas vezes fruto da falta de conhecimento sobre o seu efetivo funcionamento. Os antibióticos tratam apenas infecções bacterianas (pneumonia, cólera, cistite e tuberculose, entre outras), não funcionando contra infecções virais (resfriado e gripe, por exemplo) e as causadas por parasitas ou fungos. Só devem, portanto, ser usados em infecções bacterianas e nunca nas virais.

É fundamental que cada um de nós pratique um consumo consciente de antibióticos, limitando-o às situações onde são realmente necessários por recomendação médica. O ideal é buscar cuidados de profissionais, nunca se automedicar, seguir à risca as prescrições médicas, e não utilizar antibióticos vencidos ou que tenham sobrado do tratamento de uma doença anterior.

E deve-se também evitar a ingestão de bebidas alcoólicas durante o tratamento com antibióticos para não sobrecarregar o fígado, que metaboliza tanto o remédio quanto a bebida. 

Esses cuidados seguem a recomendação que Fleming fez lá em 1945 e são dever de todos, pois cada pessoa que faz uso inadequado de um antibiótico está contribuindo para o aparecimento das superbactérias.

A resistência aos antibióticos é uma questão universal, que atravessa fronteiras sociais, etárias e de gênero e não faz distinção entre o atendimento em unidades públicas ou privadas de saúde. Só vamos reduzir os riscos de seu uso incorreto e proteger um século de progresso em saúde se agirmos coletivamente.

* O autor agradece a colaboração de Larissa Kuroki, Fernanda Iwasaka e Bruna Tiussu na elaboração deste artigo, assumindo, no entanto, total responsabilidade por seu conteúdo.

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