Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

O enigma chinês

Apesar do forte esquema de censura, o país está virando uma potência educacional e científica

A China segue desafiando os credos de economistas liberais. Eles sempre apostaram que o processo de abertura econômica no gigante asiático levaria à democratização. Não há nenhum sinal de que isso esteja acontecendo.

Segundo esses especialistas, o enriquecimento torna a população mais exigente. O surgimento de uma enorme classe média chinesa acabaria resultando em uma irresistível demanda por abertura política. Até agora não a vimos. Mas os liberais podem ter um trunfo escondido. Até agora também não vimos a China experimentar uma recessão ou uma queda forte no ritmo de crescimento, que são os eventos que costumam desencadear rebeliões políticas. Ainda pode acontecer.

Alunos acompanham demonstração com drones em escola chinesa
Alunos acompanham demonstração com drones em escola chinesa - Reuters

O outro canal pelo qual a democracia se transmitiria é ainda mais teórico. Para economistas, em especial para aqueles ligados a correntes institucionalistas, a manutenção da prosperidade por períodos mais dilatados de tempo depende de um fluxo constante de inovações e ganhos de produtividade, que são inibidos quando as pessoas não podem trocar informações livremente. Haveria, portanto, uma incompatibilidade intrínseca entre ditadura e crescimento duradouro.

De novo, a China não dá sinais de que tenha batido num teto. Ao contrário, apesar do forte esquema de censura, o país está se tornando uma potência educacional e científica. Os dirigentes locais, que estudaram com afinco os precedentes históricos, foram capazes de evitar a ideologização da ciência, algo que contribuiu para a derrocada da URSS nos anos 70 e 80. A biologia soviética, por exemplo, contaminada por ideias esdrúxulas contra o darwinismo, era imprestável, o que deixou o país para trás na agricultura e outras áreas de relevância econômica.

Talvez seja cedo para decretar que os economistas liberais perderam, mas os sinais não são animadores. Talvez tenhamos de concluir que o valor da liberdade é moral, não instrumental.

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