Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Homeopatia funciona

Grande parte das afecções que acometem a saúde passa sozinha

Ninguém duvida de que a homeopatia funcione. A questão é que quase tudo funciona, incluindo xamanismo, florais de Bach, cristais coloridos, reiki e até mesmo não fazer nada. Para nossa sorte, grande parte das afecções que acometem a saúde passa sozinha.

O problema que se apresenta não é determinar as drogas e terapias que funcionam, mas sim aquelas em que faz sentido alocar recursos públicos. E aí os critérios têm de ser elevados. Para obter certificação por uma agência reguladora, um medicamento precisa mostrar, em estudos controlados, que sua ação é superior à de placebos, regressões naturais ou de outras drogas já licenciadas para tratar aquela moléstia.

Produção de remédios do HC, onde também são fabricados placebos - Ze Carlos Barretta - 5.ago.2011/Folhapress

O mais traiçoeiro desses elementos é o efeito placebo. Durante muito tempo, ele foi tratado meio pejorativamente pela medicina, quase como se fosse uma manifestação histérica. À medida, porém, que cientistas começaram a estudar o fenômeno mais a fundo, foi-se descobrindo que ele é real e poderoso, sendo capaz de desencadear reações fisiológicas mensuráveis.

Hoje, sabemos que placebos ativos (que causam reações) são mais eficazes que os inertes e que a forma de administração, o preço e até a cor da pílula fazem diferença. Já se descobriu até uma enzima, a COMT, e uma variante genética, a rs4680, que parecem influenciar a resposta individual de cada paciente ao efeito placebo.

O leitor arguto pode se perguntar por que, dado que o placebo é assim tão poderoso, a medicina não faz uso generalizado dele. Na verdade, ela faz. Qualquer droga que você consuma já vem com seu quinhão de efeito placebo. Espera-se que ela tenha também efeitos extraplacebo e são estes que justificam que o Estado pague por elas.

Embora pacientes melhorem com homeopatia, não é o caso de colocar dinheiro público nisso, da mesma forma que não contratamos cirurgiões psíquicos nem fazemos concurso para bruxas de Estado.
 

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