“Reviravolta”, a mais recente obra de Jared Diamond, decepciona. Eu não diria que é uma perda de tempo. Diamond escreve bem e sabe muito de muitas áreas. Mesmo que tentasse, não conseguiria deixar de transmitir insights valiosos. Para mim, foi interessante conhecer melhor a história de países que não estão muito no nosso radar, como a Finlândia e a Austrália.
Outro ponto forte do livro é que ele mostra que não devemos tomar como garantidas situações com as quais estamos meramente acostumados, mesmo que sejam a paz, a estabilidade e a democracia.
Feita a lista dos prós, passemos à dos contras. Diamond nos acostumou mal. Em livros como “Armas, Germes e Aço” ou “Colapso”, ele nos regalou com um punhado de ideias originais e com enorme poder explicativo. Em “Reviravolta”, a ideia central —a de que países lidam com crises mais ou menos da mesma forma que pessoas e que técnicas da psicologia podem ser úteis na solução de problemas— é bem mais fraquinha. E Diamond por vezes força a barra para encaixar os exemplos em seu esquema explicativo.
O corpo principal do livro é a análise de seis casos históricos de crise: a Finlândia durante e após a 2ª Guerra, o Japão se abrindo para o Ocidente no século 19, o golpe de 1973 no Chile, a Indonésia dos anos 60, a reconstrução da Alemanha e a Austrália cortando seu cordão umbilical com a Inglaterra. Também aí há alguns tropeços.
Não é que as análises sejam absurdas. Ao contrário, são até bastante ponderadas, mas o autor com frequência “universaliza” suas impressões pessoais. E o faz recorrendo a uma entidade meio mística, que aparece sob a fórmula “meus amigos finlandeses, japoneses, chilenos etc. me dizem que...”. É a expressão que ele usa para afirmar, por exemplo, que o golpe no Chile era inevitável. Talvez fosse, mas essa é uma questão que nada tem de consensual e divide profundamente os chilenos até hoje.
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