Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Gripe russa foi um coronavírus?

Em maio de 1889, em Bukhara, uma doença diferente emergiu; e em pouco tempo ganhou o mundo

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Não muito tempo atrás, o mundo já enfrentou uma mortífera pandemia de coronavírus. Essa fascinante hipótese é levantada por Nicholas Christakis em “Apollo’s Arrow”, livro que já comentei aqui.

Em maio de 1889, em Bukhara (no atual Uzbequistão), uma doença um pouco diferente emergiu. Ela ficou conhecida como gripe russa e em pouco tempo ganhou o mundo. Em dezembro, já chegara a São Petersburgo, infectando cerca de metade da população. Em seguida, alcançou as metrópoles europeias.

O vírus não teve dificuldade para cruzar o Atlântico. Os americanos, que inicialmente desdenharam da doença, foram duramente atingidos. Na primeira semana de janeiro de 1890, Nova York contou 1.202 mortos. Hospitais ficaram apinhados.

A gripe russa teve sua taxa de ataque estimada em 45% a 70%. A taxa de letalidade (CFR) foi calculada em 0,1% a 0,28%, e o R0, em 2,1.

Ilustração para coluna de Hélio Schwartsman de 30 de maio
Ilustração para coluna de Hélio Schwartsman de 30 de maio - Annette Schwartsman

Tradicionalmente, essa epidemia é atribuída a uma cepa do vírus influenza, o H3N8 ou o H2N2, mas há indícios de que o agente causador possa ser um coronavírus. Parte significativa dos doentes apresentava mais sintomas gastrointestinais ou músculo-esqueléticos do que respiratórios, o que é mais comum com coronavírus do que com influenza.

Mais, a gripe russa causou muitos óbitos entre idosos e poupou as crianças, o que lembra muito o Sars-CoV-2. O padrão da influenza é matar muito idosos e crianças, poupando mais os jovens e os adultos.

Análises genéticas do OC43, uma das espécies de coronavírus que infectam nossa espécie, mostram que ele saltou de um reservatório animal, provavelmente o gado, para humanos no final do século 19, o que o torna um suspeito cronologicamente plausível.

Se a hipótese de Christakis é correta, a boa notícia é que, depois de sucessivas ondas que se estenderam até 1892, o OC43 e seus hospedeiros humanos chegaram a um “modus vivendi”. Hoje o OC43 não causa mais que resfriados comuns.

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