Como previsto, Bolsonaro transformou as comemorações do bicentenário em comício eleitoral. Nunca entendi o fascínio humano por números redondos. Não vejo por que 200 anos mereçam celebração mais vistosa que 193 anos, por exemplo. Eu particularmente prefiro números primos a redondos. O fato, porém, é que Bolsonaro não só grilou a data cívica como também pôs a estrutura do Estado, Forças Armadas incluídas, a serviço de sua candidatura. Como previsto, partidos representaram contra ele, e o TSE vai ter de decidir.
Quando nos deparamos com um problema aparentemente insolúvel, dizemos que temos um nó górdio a desatar. É referência a uma lenda grega. Os frígios haviam ficado sem rei, e um oráculo determinara que a próxima pessoa a entrar na cidade de Telmesso num carro de boi deveria ser coroada. A distinção coube a um camponês de nome Górdio. Para celebrar a conquista do pai, seu filho Midas (sim, aquele do ouro) mandou erguer a carroça, que ficava presa por um nó inextrincável. É o famoso nó górdio.
O problema diante do TSE é difícil. A manipulação de Bolsonaro foi tão acintosa, que, se a corte não fizer nada agora, não terá moral para condenar mais ninguém por abuso de poder político. E, se os magistrados decidirem punir o presidente na real extensão de seus desmandos, isto é, com a cassação da chapa, criarão uma crise. Não é trivial tirar o segundo colocado nas pesquisas que, por acaso, também é o presidente. Fazê-lo não só privaria o país de uma definição eleitoral para o embate político como daria a Bolsonaro a narrativa de que é perseguido por juízes parciais.
A história do nó górdio continua. Havia uma profecia que dizia que quem quer que conseguisse desatar o nó se tornaria o soberano da Ásia. Alexandre, o Grande, passou pela capital frígia, fitou o nó, desembainhou a espada e o golpeou, desfazendo-o. Quem dera houvesse uma solução assim certeira para o TSE.
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