Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Auxílio Brasil

'Potlatch' eleitoral

Corrida armamentista de promessas na eleição tem precedente em tradição indígena no Canadá

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O ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) em campanha eleitoral - Fotos Danilo Verpa/Folhapress e Reprodução/@Flow Podcast no Youtube

Um dos costumes de indígenas do Novo Mundo que mais intrigou e escandalizou os colonizadores é o "potlatch", praticado por tribos da costa oeste dos EUA e do Canadá. Eram cerimônias festivas nas quais o homenageado, quase sempre um membro de família aristocrática, oferecia banquetes e entregava a maior parte ou mesmo todos os seus bens a parente e amigos.


A chegada dos europeus provocou uma série de mudanças demográficas e aumentou o estoque de coisas a distribuir, inflacionando o "potlatch", que evoluiu para formas mais radicais, em que quantidades crescentes de bens eram distribuídas e mesmo destruídas em grandes fogueiras. As autoridades canadenses viram a prática como uma manifestação de completa irracionalidade e a criminalizaram.


Foi preciso que a antropologia avançasse para além das observações de missionários europeus para que se percebesse que o "potlach", ainda que ocasionasse destruição de riqueza, envolvia também uma sofisticada teia de relacionamentos sociais, com funções religiosa, econômica e política. O homenageado, que entregava seus bens, adquiria prestígio, item de alto valor, e às vezes também acesso privilegiado a zonas de pesca e coleta. Mesmo a riqueza da qual se desfazia acabava retornando parcialmente, quando a família rival dividia seus bens no "potlatch" seguinte.

Meu ponto é que o "potlatch", compreendido como uma disputa na qual agentes fazem sacrifícios crescentes em busca de ganhos políticos (altruísmo competitivo), é menos exótico do que parece. Estamos agora mesmo diante de um. Bolsonaro elevou o velho Bolsa Família para R$ 600. Lula, para não ficar atrás, prometeu manter os R$ 600 e dar mais R$ 150 para cada criança que houver na família. Bolsonaro, em resposta, falou em aumentar o estipêndio para R$ 800 para aqueles que estiverem empregados.

Corridas armamentistas, quando saem de controle, podem deixar um rastro de destruição.

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