No intervalo de pouco mais de uma semana, o mundo assistiu a duas eleições importantes: o segundo turno do pleito presidencial brasileiro e as disputas de meio de mandato ("midterms") nos EUA. A mensagem que emerge de ambas enseja algum otimismo. Os eleitores dos dois países indicaram que a democracia permanece viável.
No Brasil, o candidato que desprezava e ameaçava as instituições foi derrotado. Não foi uma derrota tranquila. A margem foi apertada, e Bolsonaro e seus financiadores estimularam protestos que bloquearam estradas em todo o país. Um promotor que veja aí uma tentativa de golpe não estará fantasiando.
Nos EUA, embora ainda não saibamos qual partido vai controlar cada uma das duas casas legislativas (o sistema de contagem de votos deles é assustadoramente chinfrim), já ficou claro que não se materializou a onda republicana surfada por candidatos radicais que muitos temiam. Não é que nenhum dos trumpistas que descrevem a eleição do presidente Biden como uma fraude tenha tido sucesso. Muitos tiveram, mas não na proporção que os "pundits" prognosticavam. Na verdade, a votação dos republicanos deverá ficar bem aquém das marcas historicamente obtidas por partidos oposicionistas em "midterms".
Consciente ou inconscientemente, os eleitores de ambos os países optaram por afastar os cenários que causariam mais estresse à democracia. Isso significa que está tudo resolvido? Nem de longe.
Mesmo que Bolsonaro e Trump jamais se recuperem eleitoralmente, o jogo político mudou e ficou mais perigoso. Pippa Norris, uma das minhas cientistas políticas favoritas, sustenta que a própria evolução da demografia provoca revoluções silenciosas, em que os valores de uma geração vão paulatinamente sendo substituídos pelos da que a sucede. Autoritários da extrema direita têm saído melhor do que a esquerda, o centro e a direita tradicional em explorar as novas inquietações.
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