Entenda resultados das midterms nos Estados Unidos em 10 pontos

Eleições trazem alívio para Biden, revés para Trump, vitória para DeSantis e diversidade para Congresso

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Atlanta (Geórgia)

As midterms, eleições de meio de mandato nos EUA, surpreenderam os que acompanham o noticiário político internacional ao não impor ao presidente Joe Biden a derrota acachapante que era prevista.

O resultado parece negativo para o ex-presidente Donald Trump, que não conseguiu emplacar algumas de suas principais apostas e vê Ron DeSantis, um novo herdeiro do trumpismo, consolidar-se.

Em nível estadual, as lideranças serão mais diversas. Entenda os pontos principais da eleição americana.

1) A onda republicana não é tão forte quanto se imaginava

Ainda que a apuração não tenha sido concluída, algo já é dado como certo: a "onda vermelha" republicana que as pesquisas apontavam como provável no Congresso não deve chegar com tanta força como aconteceu em outros mandatos democratas.

Em 2010, nas primeiras midterms de Barack Obama, os republicanos viraram 63 cadeiras para o partido. No começo do governo Bill Clinton, em 1994, os republicanos conquistaram 54 assentos. Hoje os republicanos têm 212 assentos na Câmara e precisam, ao todo, de 218 para controlar a Casa. Qualquer resultado abaixo de 20 novas cadeiras neste ano tem sido visto como um resultado ruim para o partido.

No Senado, os republicanos também podem não obter maioria. Tudo isso faz com que os números até aqui sejam muito melhores do que o esperado pelo presidente Joe Biden.

Eleitores votam em Columbus, no estado americano de Ohio - Drew Angerer/Getty Images/AFP

O resultado é especialmente ruim para Trump, que viu algumas de suas apostas serem derrotadas, não só no Legislativo, como também em governos estaduais, como na Pensilvânia (Doug Mastriano), em Wisconsin (Tim Michels) e em Michigan (Tudor Dixon).

2) Aborto e inflação decidiram pleito

Os dois temas mais importantes desta eleição para os eleitores, segundo todas as grandes pesquisas de boca de urna, foram a situação econômica dos Estados Unidos e a garantia do acesso ao aborto.

A inflação, hoje em 8,2% no acumulado de 12 meses, nível historicamente alto, tende a punir o Partido Democrata, que está no poder. Por outro lado, a defesa do direito ao aborto, depois que a Suprema Corte autorizou em junho que estados proibissem a prática, mobilizou uma legião de eleitoras mesmo em estados conservadores para votar em candidatos democratas.

A Pensilvânia, por exemplo, estado-pêndulo, que não tem preferência clara por democratas ou republicanos, elegeu democratas para o governo e o Senado. Por lá, 35% dos eleitores citaram o aborto como o tema mais importante hoje, e 29%, a inflação, segundo o canal NBC.

Além disso, Michigan, Califórnia e Vermont aprovaram nesta terça emendas que adicionam às Constituições locais o direito à interrupção voluntária da gravidez.

3) Ron DeSantis sai fortalecido, e a Flórida, mais republicana

A reeleição acachapante do governador da Flórida, Ron DeSantis, com quase 20 pontos percentuais à frente do segundo colocado, confirma o republicano como uma das figuras mais fortes do partido de Donald Trump —e uma ameaça às pretensões do ex-presidente de voltar ao cargo.

Por mais que os republicanos ocupem o comando do estado desde a eleição de Jeb Bush, em 1999, a margem de vitória dos republicanos desde 2006 não passava dos dois dígitos. A vitória de DeSantis não só o consolida dentro do partido como reforça que a Flórida, antes um estado-pêndulo, está cada vez mais identificada com o Partido Republicano.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, em discurso da vitória na terça-feira em Tampa - Giorgio Viera/AFP

4) Negacionistas de 2020 ganham espaço, mas perdem em postos-chave

Mais de 168 candidatos republicanos que contestam eleição de 2020 se elegeram nas midterms, segundo monitoramento do jornal The Washington Post com os dados disponíveis até a tarde desta quarta, algo que pode impactar a eleição presidencial de 2024. Há entre eles radicais como a deputada Marjorie Taylor Greene, negacionista e disseminadora das conspirações do QAnon, e o senador Rand Paul, do Kentucky.

Houve derrotas importantes, porém. Na Pensilvânia, Doug Mastriano perdeu a eleição para governador, assim como a comentarista política conservadora Tudor Dixon em Michigan, ambos apoiados por Trump.

5) Estados elegem mulheres pela primeira vez

Ao menos dois estados terão governadoras mulheres pela primeira vez em sua história. Em Massachusetts, a população elegeu Maura Healey, 51, que também será a primeira governadora do país abertamente lésbica. Os EUA ainda podem eleger outra mulher lésbica nestas midterms, a democrata Tina Kotek, que disputa o governo do Oregon —ainda não há definição do resultado.

Outro estado que elegeu uma mulher pela primeira vez foi o Arkansas, onde a republicana Sarah Huckabee Sanders, porta-voz da Casa Branca durante o governo Trump, saiu vitoriosa. Ela é filha de Mike Huckabee, que foi governador do mesmo estado por dez anos.

O estado de Vermont elegeu pela primeira vez uma mulher para o Congresso, a democrata Becca Balint. Vermont era o último estado do país que ainda não havia elegido mulheres para o Legislativo federal.

6) Maryland terá primeiro governador negro

Já em Maryland, Wes Moore será o primeiro governador negro do estado e o terceiro eleito na história do país —os primeiros foram Douglas Wilder (1990-1994), na Virgínia, e Deval Patrick (2007-2015), em Massachusetts. Com trajetória no mercado de investimentos, o democrata, que também é escritor e produtor de televisão, substituirá o popular Larry Hogan, também do Partido Democrata.

7) Senado volta a ter representante indígena depois de quase duas décadas

O deputado republicano Markwayne Mullin, que tem origem indígena, foi eleito senador pelo estado de Oklahoma. Mullin é oficialmente membro da Nação Cherokee. Os EUA já tiveram quatro senadores com raízes indígenas. O último deles, Ben Nighthorse Campbell, deixou o cargo em 2005. Oklahoma já teve outro senador indígena, Robert Owen (1907-1925), também da Nação Cherokee.

8) Geração Z terá representante no Parlamento

O deputado mais novo desta legislatura será o democrata Maxwell Frost, que tem 25 anos, idade mínima permitida para um cargo na Casa. Ele foi eleito pela Flórida e tem sido descrito como o primeiro parlamentar da geração Z —de nascidos após 1995 e à qual ele fez questão de agradecer. "GANHAMOS!!!! A história foi feita nesta noite. Fizemos história para os habitantes da Flórida, para a geração Z e para todos que acreditam que merecemos um futuro melhor", escreveu ele no Twitter ao comemorar a vitória.

9) 'Squad' de AOC se reelege

O chamado 'Squad', grupo de deputados da esquerda e representantes de minorias cuja expoente máxima é a democrata Alexandra Ocasio-Cortez (Nova York), foi todo reeleito. Além de AOC, como ela é conhecida, continuarão a ocupar o Congresso Ilhan Omar (Minnesota), Ayanna Pressley (Massachusetts), Rashida Tlaib (Michigan), Cori Bush (Missouri) e Jamaal Bowman (Nova York).

Ayanna Pressley, Ilhan Omar, Rashida Tlaib e Alexandria Ocasio-Cortez em evento em 2019 - Brendan Smialowski/AFP

Outros nomes podem integrar o grupo, como Greg Casar, eleito no Texas; Summer Lee, na Pensilvânia; Delia Ramirez, de Illinois; e o próprio Maxwell Frost, o caçula da Flórida.

10) Homem trans é eleito pela primeira vez a um cargo no Legislativo

O estado de New Hampshire elegeu na terça James Roesener como deputado estadual, o primeiro homem trans eleito para um cargo do tipo no país, segundo o LGBTQ Victory Fund, grupo que promove a inclusão de pessoas LGBTQIA+ na política. O democrata tem 26 anos.

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