É difícil saber qual é exatamente a situação epidemiológica da China, após o fim da política de Covid zero. Pelas informações que escapam, o quadro não é bom. Os novos contágios estariam fora de controle, levando à superlotação dos hospitais e produzindo muitas mortes, especialmente entre idosos.
Se a situação atual é essa, ela contrasta com a dos três primeiros anos da pandemia, em que Pequim conseguiu controlar as infecções. A China seria agora uma vítima de seu sucesso pretérito.
O foco da política chinesa eram as medidas não farmacológicas: ampla testagem e isolamento em massa. Os lockdowns eram severíssimos, assim como o controle de fronteiras. Nem por isso Pequim deixou de vacinar. O governo o fez, mas com as vacinas nacionais, de vírus inativados. Elas funcionam (o Brasil é prova disso), mas não tão bem quanto as vacinas de mRNA.
Especialmente os idosos se ressentem da falta de reforços (3ª e 4ª doses), que não foram disponibilizados em larga escala. Na verdade, poucos países conseguiram altas taxas de aderência para os reforços, mas, nas nações em que o vírus circulou, infecções naturais acabaram atualizando a imunidade das pessoas. Na China, que segurava o Sars-CoV-2 à unha, isso não aconteceu.
O que aconteceu é que as novas variantes do vírus, pela própria evolução darwiniana, se tornaram mais infeciosas (o R0 da cepa original foi estimado em 3,3; o da ômicron, em 18,6). Isso significa que vai ficando cada vez mais difícil conter a transmissão com medidas não farmacológicas.
Por pressões políticas, econômicas e evolutivas, Pequim não poderia manter a política de Covid zero para sempre. Mas, ao que tudo indica, a reabertura foi atabalhoada. De todo modo, acho difícil que, ao fim do processo, a China apresente taxas de mortalidade por milhão de habitantes tão ruins como as dos países que erraram em quase tudo desde o início, como Brasil, EUA, Reino Unido.
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