Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Descrição de chapéu
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E finalmente...

Médico conta em livro experiência de descobrir câncer avançado

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São Paulo

O amor pode ser descrito como a união de dois corpos para formar um cadáver. Todos sabemos que vamos morrer um dia e, embora a consciência de nossa transiência seja tida como um dos traços definidores da humanidade, ela não parece comandar nosso dia a dia, até que... Em "And Finally" (e finalmente), Henry Marsh conta a experiência de se descobrir com um câncer avançado. Não há ainda metástases, mas o autor sabe que são pequenas as chances de ele ainda estar vivo dentro de cinco anos.

ilustração de Annette Schwartsman mostra a seguinte cena: em primeiro plano, numa sala com paredes cor de vinho, há à esquerda um portal de pedra e, à direita, um homem grisalho de costas; ele usa calças caqui, camisa azul e sapatos marrons e olha em em direção à porta, que tem um relógio no alto do batente, marcando 10:10; do lado de dentro da porta se vê a silhueta da morte, sob um fundo azul claro.
Ilustração Annette Schwartsman

O britânico Marsh sabe disso porque olhou no Google e é médico, neurocirurgião para ser mais específico. Já deu muitos diagnósticos e prognósticos sombrios. É também um autor de sucesso. Por um de seus livros anteriores, "Sem Causar Mal", de 2014, foi chamado de Boswell da neurocirurgia. A passagem da condição de médico à de paciente é um dos temas recorrentes de "And Finally".

O livro combina memórias, reflexões filosóficas e dúvidas práticas (o que fazer com a casa que ele reformava para passar a velhice?). Marsh é brutalmente honesto. Atribui a si mesmo a culpa por só descobrir o câncer tardiamente, já que, na convicção de que são apenas os pacientes e nunca os médicos que adoecem, negligenciou os sintomas que deveriam tê-lo levado a procurar um especialista. Também critica impiedosamente seus dotes na marcenaria, que exerceu por décadas como um hobby sério.

No campo das reflexões, há uma defesa apaixonada do suicídio assistido, em que ele, embora seja ateu, analisa até a questão religiosa. Segundo ele, há um problema lógico no fato de os mais veementes opositores do suicídio assistido (e do aborto) serem religiosos e acreditarem numa vida "post mortem". Ora, se nossas jornadas não se encerram com a morte e o que nos aguarda (aos bonzinhos pelo menos) é um banquete celeste, por que adiá-lo? Religiosos, para ser consequentes, deveriam ansiar pela própria morte, jamais temê-la.

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