Em 2010, Stephen Hawking causou celeuma ao escrever, em "O Grande Projeto", que a filosofia estava morta. Em 2019, Tim Maudlin mostrou, em "Philosophy of Physics: Quantum Theory", que Hawking estava errado. Ainda há filósofos como o próprio Maudlin capazes de acompanhar os últimos desenvolvimentos da física e com eles promover discussões metafísicas sofisticadas.
"Philosophy of Physics" não é uma leitura fácil. Embora seja um texto introdutório, ele traz várias equações, o que viola o primeiro axioma do editor, segundo o qual livros de ciência que almejem a vendas jamais devem estampar equações. Mas Maudlin se esforça para ser didático. Consegue um bom resultado no primeiro capítulo do livro, no qual descreve oito experimentos que carregam a essência dos fenômenos quânticos e seus mistérios. Nos capítulos seguintes, contudo, as coisas vão ficando mais complicadas.
Para Maudlin, a versão mais comum do "quantismo" (o neologismo vai por minha conta), conhecida como interpretação de Copenhague, não chega a constituir uma teoria. Uma das ideias centrais do autor é que teorias pressupõem ontologias, isto é, precisam especificar a "realidade" sobre a qual falam. E a interpretação de Copenhague, por recusar-se a fazer isso, não é uma teoria. Ela é mais bem descrita como uma receita para obter resultados práticos, que se mostram surpreendentemente exatos.
O leitor, contudo, não precisa se inquietar. O que não falta ao quantismo são teorias, com ontologias completas que fazem afirmações precisas sobre o que é e o que não é real. Maudlin explora três delas, a do colapso da função de onda, de Ghirardi, Rimini e Weber, a da onda-piloto, de De Broglie e Bohm, e a dos muitos mundos, de Everett. O que surpreende aqui é que, partindo do mesmo conjunto de experimentos, possam chegar a conclusões tão díspares do que seria a "realidade".
A filosofia é um negócio difícil de matar.
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