Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Livro de filosofia da física explora as metafísicas geradas por fenômenos quânticos

Uma das ideias centrais do autor é que teorias pressupõem ontologias

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Em 2010, Stephen Hawking causou celeuma ao escrever, em "O Grande Projeto", que a filosofia estava morta. Em 2019, Tim Maudlin mostrou, em "Philosophy of Physics: Quantum Theory", que Hawking estava errado. Ainda há filósofos como o próprio Maudlin capazes de acompanhar os últimos desenvolvimentos da física e com eles promover discussões metafísicas sofisticadas.

"Philosophy of Physics" não é uma leitura fácil. Embora seja um texto introdutório, ele traz várias equações, o que viola o primeiro axioma do editor, segundo o qual livros de ciência que almejem a vendas jamais devem estampar equações. Mas Maudlin se esforça para ser didático. Consegue um bom resultado no primeiro capítulo do livro, no qual descreve oito experimentos que carregam a essência dos fenômenos quânticos e seus mistérios. Nos capítulos seguintes, contudo, as coisas vão ficando mais complicadas.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 28 de maio de 2023, mostra, sob um fundo escuro, partículas redondas flutuantes de diferentes tamanhos espalhadas pelo espaço, sendo que, alguns pares delas, são interligados por feixes coloridos, representando entrelaçamentos quânticos.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman, publicada na versão impressa Folha de S.Paulo deste domingo (28 de maio de 2023) - Annette Schwartsman

Para Maudlin, a versão mais comum do "quantismo" (o neologismo vai por minha conta), conhecida como interpretação de Copenhague, não chega a constituir uma teoria. Uma das ideias centrais do autor é que teorias pressupõem ontologias, isto é, precisam especificar a "realidade" sobre a qual falam. E a interpretação de Copenhague, por recusar-se a fazer isso, não é uma teoria. Ela é mais bem descrita como uma receita para obter resultados práticos, que se mostram surpreendentemente exatos.

O leitor, contudo, não precisa se inquietar. O que não falta ao quantismo são teorias, com ontologias completas que fazem afirmações precisas sobre o que é e o que não é real. Maudlin explora três delas, a do colapso da função de onda, de Ghirardi, Rimini e Weber, a da onda-piloto, de De Broglie e Bohm, e a dos muitos mundos, de Everett. O que surpreende aqui é que, partindo do mesmo conjunto de experimentos, possam chegar a conclusões tão díspares do que seria a "realidade".

A filosofia é um negócio difícil de matar.

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