Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Manias nacionais

No francês, existe um divórcio entre a língua falada e a escrita

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São Paulo

Mario Sergio Conti nos premiou no último sábado (10) com um saboroso texto sobre o maior ditado do mundo, que teve lugar no início do mês, quando mais de 5.000 pessoas acorreram à avenida Champs-Élysées, em Paris, para transformar em texto as palavras que ouviam do mestre de cerimônias. Ele leu trechos de Daudet. Os franceses têm verdadeira obsessão por ditados. A mania tem, por óbvio, razões culturais, mas também linguísticas.

Se em italiano ou alemão, idiomas com ortografia transparente, converter palavras ouvidas em textos é um exercício quase trivial, esse não é o caso do francês, cujo sistema de escrita é altamente opaco. Não só os franceses adotam uma ortografia mais etimológica que fonética como também existe um divórcio entre a língua falada e a escrita.

Participantes do "maior ditado do mundo", na avenida Champs-Élysées, em Paris - Alain Jocard/AFP - AFP

É só olhar para o sistema verbal. Na escrita, as desinências pessoais estão todas bem marcadas. "J´aime, tu aimes, il aime". Na pronúncia, porém, o som é muitas vezes o mesmo. É grande também a concentração de palavras diferentes que são quase homófonas: "vent" (vento), "vin" (vinho) e "vends" (vendo). Isso faz com que a conversão de um texto falado em escrito seja um ótimo exercício, em que o estudante só terá sucesso se tiver compreendido muito bem o que ouviu.

Algo parecido ocorre em inglês, outra língua ortograficamente opaca. No idioma de Shakespeare, qualquer letra (ou grupo de letras) pode ter quase qualquer som. Num chiste atribuído a Mark Twain, o escritor propõe que a palavra "fish" (peixe) fosse escrita "ghotiugh", em que o "gh" soa como "f", como ocorre em "enough" (bastante); o "o" tem som de "i", como em "women" (mulheres); o grupo "ti" vale por "ch", como em "nation" (nação); e o grupo "ugh" não tem som algum, como em "ought" (dever). A dificuldade aí não é tanto no nível das frases, mas de palavras individuais. A mania nacional nos EUA não são os ditados, mas os "spelling bees", os concursos de soletração.

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