Não estou entre os ultraliberais que têm vontade de sacar o revólver só de ouvir falar na palavra "subsídio". Há atividades que não sobreviveriam sem a intervenção do Estado, e acho importante que elas existam. Penso em coisas como orquestras sinfônicas, museus e até alguns cursos universitários, como grego ou sânscrito. A Lei Rouanet, embora comporte melhorias de desenho, me parece um instrumento adequado. Ela consegue viabilizar produtos culturais que de outra forma não existiriam, reduzindo o risco do dirigismo estatal.
Um tipo de apoio que eu decididamente não compro é a chamada cota de tela, que é a reserva de espaços de exibição para produções nacionais. Ela está suspensa desde o governo Temer, mas a turma do audiovisual se prepara para ressuscitá-la. São vários os problemas da cota de tela. O mais grave é que se trata de beneficência com o bolso alheio.
Ninguém tem maior interesse em manter a casa cheia do que o dono do cinema. Se ele passa "Barbie" em vez do filme nacional premiadíssimo, é porque há mais gente querendo ver a história da boneca do que o trabalho daquele novo diretor genial. Nestes tempos em que exibidores penam para não quebrar, chega a ser cruel obrigá-los a mostrar títulos que atraem menos público.
No mais, se algumas décadas atrás o cinema era praticamente o único lugar em que um filme podia ser visto, isso já não é mais verdade. O streaming e a própria internet são opções viáveis e ao alcance de todos. E o sucesso das séries turcas e sul-coreanas na Netflix mostra que o público brasileiro não é preconceituoso. Se a história tiver apelo, o telespectador assiste, mesmo que não conheça a língua e ignore muito do ambiente cultural.
Há um provérbio que traduz bem como vejo a situação. Você pode levar o cavalo até a beira do rio, mas não pode obrigá-lo a beber água. Ajudar a financiar o filme é ok, mas não dá para forçá-lo goela abaixo do mercado.
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