Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Mundo não perderia nada se prefeituras fossem proibidas de contratar shows

O desafio do Estado é encontrar uma forma de financiar as artes sem recair em dirigismo

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Se a profissão de prostituta é a mais antiga do mundo, a de artista é a segunda mais velha. Desde tempos imemoriais, governantes e pessoas muito ricas financiavam bardos para enaltecer-lhes as glórias. Caio Cílnio Mecenas, uma combinação de político com pessoa podre de rica, conselheiro do imperador Augusto, apoiou tão entusiasmadamente artistas que seu nome gerou a palavra "mecenas".

O desafio dos Estados modernos é encontrar uma forma de financiar as artes e a cultura em geral sem recair nem em dirigismo estatal nem em favorecimentos. A solução ultraliberal para o problema é simplesmente proibir o poder público de apoiar artistas. Se suas produções não passam pelo crivo do mercado, é porque ninguém está interessado nelas e é melhor mesmo que não existam. Mas eu receio que não seja tão simples. Museus e orquestras sinfônicas, para citar só dois exemplos, são muito pouco rentáveis e dependem de verbas públicas para funcionar. E eu prefiro viver num mundo onde existam o Louvre e a Osesp a em um em que só haja "best-sellers" e "blockbusters".

Tenho críticas pontuais à Lei Rouanet, mas ela tem o mérito de tentar criar um mecanismo impessoal e republicano para a escolha dos artistas que receberão verbas estatais e estabelece algum tipo de fiscalização. O ideal seria que a Rouanet e congêneres financiassem apenas quem não consegue caminhar pelas próprias pernas na economia de mercado, mas não vejo como se possa estabelecer isso na prática. A diferença entre ser inviável e dar pouco lucro só pode ser constatada "ex post".

O que deveria ser banido da administração pública é a possibilidade de governantes contratarem diretamente artistas conhecidos para performances esporádicas. Essa é a receita perfeita para o favorecimento, o dirigismo político e até corrupção. Não penso que a humanidade perca grande coisa se prefeituras não puderem mais bancar shows de famosos.

Gusttavo Lima no festival Buteco em São Paulo
Gusttavo Lima no festival Buteco em São Paulo, em 2021; Justiça cancelou show do artista em Teolândia (BA), cidade que pagou R$ 704 mil pelo evento - Francisco Cepeda/AgNews

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