Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Hélio Schwartsman

Ultraprocessados

Livro faz radiografia de alimentos ultraprocessados e suas consequências para a saúde humana

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Meus impulsos naturebas tendem a zero. Por isso, nunca dei muita atenção à grita contra os produtos químicos adicionados à comida. "Ultra-Processed People" (pessoas ultraprocessadas), do médico britânico Chris van Tulleken, me fez parar para pensar.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 13 de agosto de 2023, mostra, sob um fundo azul, um cartaz do tipo dos que mostram os cortes da carne do boi, mas nesse caso é o do "ser-humano ultraprocessado", como diz o título do mesmo. Do lado esquerdo da imagem se vê o contorno de um homem obeso com suas partes separadas por traços pontilhados e sinalizadas com números de 1 a 10. Do lado direito do cartaz, a legenda nomeia as partes e, ao lado de cada uma, mostra um alimento ultraprocessado : 1. pescoço e uma imagem de donuts; 2. peito e um achocolatado; 3. braço e um hambúrguer; 4. antebraço e uma lata de refrigerante; 5. costela e um açucareiro cheio de cubos de açúcar; 6. lombo e uma lata de espaguete; 7. traseiro e uma pizza; 8. coxão e uma porção de batatas fritas; 9. joelho e um salame e 10. panturrilha e uma taça de sorvete.
Ilustração de Annette Schwartsman

O livro não esconde um tom militante, mas nem por isso deixa de trazer uma profusão de dados científicos fortemente sugestivos de que o consumo dos chamados alimentos ultraprocessados (AUPs) está por trás da epidemia global de obesidade e outros agravos sanitários e ambientais.

"Ultra-Processed..." é bem completo. Fala da "descoberta" dos ultraprocessados, categoria proposta pelo cientista brasileiro Carlos Monteiro, da USP. Aventura-se pelo terreno da experimentação pessoal, na qual o autor se submete a um regime de ingesta de 80% de ultraprocessados por um mês e mede os resultados —o que, obviamente, tem mais valor retórico do que científico. Mostra por que AUPs explicam a propagação da obesidade melhor do que outras hipóteses e, por fim, oferece conjecturas para entender os vários efeitos que diferentes características dos AUPs podem estar causando.

Alguns exemplos: a extrema maciez dos alimentos pode estar por trás de problemas ortodônticos; emulsificantes afetam a microbiota intestinal, o que tem uma série de repercussões, inclusive psiquiátricas; o descompasso entre gosto e conteúdo nutricional pode levar ao consumo excessivo.

O nível de problemas que cada indivíduo enfrentará depende do nível de exposição aos AUPs, o que, por sua vez, tem muito a ver com o nível socioeconômico da pessoa. Uma das principais características dos ultraprocessados é serem muito baratos. Nesse contexto, os AUPs podem ser considerados um estilo alimentar —e um que tem muito a ver com a pobreza.

Depois de ler "Ultra-Processed" eu não comecei a abraçar árvores, mas passei a ler com mais atenção os rótulos dos produtos que levo para casa.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.