Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Descrição de chapéu mídia jornalismo

Fatos da democracia

Jornalismo, que ajudava a estabelecer um conjunto de fatos reconhecidos por todos, vive crise, o que pode ter impacto sobre a democracia

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São Paulo

"Pode existir uma democracia saudável sem um conjunto comum de fatos?" Esse é o título do editorial que a revista britânica The Economist publicou esta semana ao promover uma discussão sobre o papel do jornalismo que ganhou a capa do hebdomadário. Um dos editores do órgão britânico acusa a mídia mainstream americana, em particular o New York Times, de estar se aproximando demais da visão de mundo do Partido Democrata, e, com isso, alienando o público mais conservador, com impactos deletérios para a democracia.

Há um ingrediente de rixa pessoal aí, como explica o Nelson de Sá em sua coluna, mas que não anula a discussão. A democracia depende mesmo de um entendimento comum sobre quais são os fatos do mundo? Eu mesmo já defendi essa tese algumas vezes, mas a leitura de "The Constitution of Knowledge", de Jonathan Rauch, que comentei aqui, me fez ver que a questão é mais complicada.

Na revista 1843, da Economist, 'Quando o New York Times perdeu o rumo'
Na revista 1843, da Economist, 'Quando o New York Times perdeu o rumo' - Reprodução/The Economist/1843


Rauch mostra que não há e nunca houve consenso em torno dos fatos. Basta ver que, hoje, dois terços dos americanos acreditam que anjos e demônios atuam no mundo; 75% creem em fenômenos paranormais; e 20% pensam que o Sol gira em torno da Terra. Esses números não foram mais iluministas no passado.

Segundo Rauch, não precisamos de unanimidade em torno do que são fatos, mas só de que uma elite política e intelectual seja capaz de concordar sobre qual é o método válido para estabelecê-los. É esse consenso que passa por dificuldades. E, diga-se em favor do NYT, muito porque o Partido Republicano passou a defender teses alucinadamente contrárias aos fatos. Meu palpite é que o contato direto entre políticos e eleitores através de redes sociais radicaliza as duas partes.

Seja como for, estou de acordo com o essencial do editorial da revista. Ainda é cedo para desistir dos princípios do liberalismo político. Um mundo pautado só por nossas intuições morais tende a ser um mundo mais raivoso e menos inteligente.

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