Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

O incorrigível CFM

Autarquia federal continua ignorando ciência e atuando como linha auxiliar do bolsonarismo

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São Paulo

Ah, o Conselho Federal de Medicina... O órgão colocou em sua página na internet uma enquete para aferir a opinião de médicos sobre a vacinação contra a Covid-19 em crianças que está dando o que falar. Várias organizações, como a SBPC e a Sociedade Brasileira de Imunizações, questionam a iniciativa, que já virou objeto de ação judicial. A polêmica não é sem motivo.

O questionário do CFM parece ter sido desenhado para, se não lançar dúvidas sobre a imunização, ao menos para estimular a recusa paterna. Não é de hoje que o CFM se tornou linha auxiliar de promoção do bolsonarismo. A autarquia ainda defende a prescrição "off label" de cloroquina para Covid. Fá-lo em nome da autonomia médica. Mas tentou há pouco baixar uma resolução que limitava severamente a autonomia de médicos para receitar canabidiol "off label", um dos princípios ativos da maconha que vem sendo cada vez mais utilizado —e com base em evidências, ainda que não inteiramente conclusivas em todos os casos. Os problemas do CFM no que diz respeito a validações científicas não são uma novidade. Basta lembrar que ele reconhece a homeopatia como especialidade médica.

Nara Branco Cardoso, 2, toma vacina Pfizer baby contra a Covid-19 na UBS Cambuci, em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress - Danilo Verpa/Folhapress

Penso que o CFM tem um problema de desenho institucional. Ele tem uma natureza híbrida. É ao mesmo tempo uma entidade que zela por interesses de classe e uma autarquia com poderes normativos, inclusive o de arbitrar questões científicas. E, se faz sentido utilizar eleições para compor órgãos de classe, encarregados, por exemplo, de manter tribunais éticos, isso já não vale para questões científicas. Uma droga funciona ou não independentemente do que os médicos pensem dela.

Acho que deveríamos cogitar de um novo desenho para o órgão, separando melhor matérias corporativas das normatizações científicas, que deveriam ser mais profissionalizadas. O sujeito pode ser um ótimo cirurgião e não saber a estatística necessária para avaliar ensaios clínicos.

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