Já torci publicamente pela morte de um ex-presidente, mas nunca o chamei de genocida. É preciosismo, admito, mas procuro sempre utilizar termos politicamente carregados da forma mais precisa possível.
A gestão da pandemia sob Bolsonaro foi desastrosa, causando um excesso de mortes na casa das dezenas de milhares. Penso que o ex-mandatário deveria ser responsabilizado por isso. Acho difícil, contudo, provar que ele tivesse a intenção de destruir, no todo ou em parte, o grupo nacional dos brasileiros, que é o que justificaria a imputação de genocídio. Melhor chamá-lo de homicida serial por negligência.
Algo parecido pode ser dito dos ataques a Gaza. Parece-me claro que Israel incide em crimes de guerra e talvez também em crimes contra a humanidade. O caso do genocídio é mais complicado. É um tipo penal ruim mesmo. Ele exige um dolo ultraespecífico que é muito difícil de provar.
Nesse contexto, creio que o Itamaraty pisou na bola ao apoiar a ação sul-africana no Tribunal de Haia que acusa Israel de genocídio. O caso é juridicamente controverso e vai contra as tradições da diplomacia brasileira. Houve claramente uma dedada de Lula aí.
Minha impressão é que, depois que revolução saiu do horizonte do possível, a esquerda deslocou sua radicalidade para o plano discursivo. Genocídio e golpe se tornaram palavras de ordem. Não é o rigor que sai ganhando. Se o impeachment de Dilma foi tecnicamente um golpe, como querem petistas, então nós temos um problema. É que o processo no Senado que a destituiu foi presidido por Ricardo Lewandowski.
Se ele deixou passar um erro tão grave, então Lula acaba de pôr no Ministério da Justiça um analfabeto jurídico.
PS: Discordo de grande parte das ideias de Breno Altman e da forma hiperbólica como ele as expõe. Isso não nos impede de ter uma relação muito cordial. Penso que suas teses devem ser refutadas pela argumentação, nunca pela censura.
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