Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Hélio Schwartsman

A vida como não conhecemos

Livro de astrobióloga propõe a criação de uma nova física para lidar com nossa ignorância em relação a formas de vida alienígenas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Teólogos e astrobiólogos têm um problema comum. É possível que seus objetos de estudo, respectivamente Deus e vida alienígena, não existam e, mesmo que existam, nunca se façam cognoscíveis para nós. Mas astrobiólogos tentam desenvolver uma física adequada para lidar com a dificuldade.

Essa pelo menos é a proposta de "Life As No One Knows It" (vida como ninguém conhece), da física teórica convertida em astrobióloga Sara Imari Walker.

A ilustração feita por  Annette Schwartsman mostra uma cena noturna com um disco voador iluminado por um feixe de luz amarelo. No feixe, há uma figura que parece ser um ser uma pessoa sendo levada para o disco. Na parte inferior, há três silhuetas de pessoas observando a cena. O fundo é um céu estrelado com árvores escuras ao redor.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman, esta presente também na edição impressa da Folha deste domingo (1º.set.2024) - Annette Schwartsman /Folhapress

Walker, que foi orientanda do físico brasileiro Marcelo Gleiser, começa mapeando os problemas de sua área. Não existe definição de vida que pare em pé. Uma das mais populares, como a que diz que vida são sistemas químicos autossustentáveis capazes de evolução darwiniana, exclui bilhões de abelhas operárias, já que elas não se reproduzem.

E fica pior. Se a vida alienígena tiver base numa química muito diferente da nossa, é possível que nós não consigamos nem reconhecê-la caso topemos com ela.

Walker sugere que abandonemos a busca de definições e nos contentemos, à moda de Turing, com um teste para separar produtos abióticos de coisas vivas. Para a autora, a teoria da montagem, que ela ajudou a desenvolver, faz isso. Seleção gera complexidade. Então, entidades que exijam muitos passos (tipicamente mais de 15) para ser construídas devem ser consideradas como de origem viva.

Vale notar que, sob essa perspectiva, a vida não é algo binário, mas vem num espectro. A proposta abarca não só seres vivos mas também coisas que eles constroem, como satélites e inteligência artificial. Com a teoria da montagem, Walker diz ser possível desenvolver uma nova física, formalizável, mensurável e falseável, capaz de lidar com a vida como nós não conhecemos.

A teoria da montagem é algo novo e, portanto, polêmico. Ao vender seu peixe, a autora faz ótimas observações sobre filosofia da ciência e nos coloca a par dos últimos desenvolvimentos na pesquisa sobre as origens da vida e em astrobiologia. Vale a leitura.

PS – Dou três semanas de férias ao leitor

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.