Ian Bremmer

Fundador e presidente do Eurasia Group, consultoria de risco político dos EUA, e colunista da revista Time.

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Parceria Transpacífico: a melhor esperança do Ocidente

Internet global está prestes a ser dividida em duas, uma ocidental e outra chinesa

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No outono de 2016, tanto o candidato republicano quanto o democrata à Presidência dos Estados Unidos se declararam contra a Parceria Transpacífico (TPP na sigla em inglês), um enorme acordo comercial que uniria economias que encerram aproximadamente 40% do PIB global. 

O presidente dos EUA, Donald Trump, retirou o país da TPP em sua primeira semana no cargo. A era dos "Estados Unidos Primeiro" começava oficialmente.

Com dois anos e meio de ordem mundial pós-americana, Washington continua a confundir os aliados tradicionais dos Estados Unidos.

O presidente do EUA, Donald Trump, à esq., e o dirigente chinês, Xi Jinping, durante reunião bilateral em Osaka
O presidente do EUA, Donald Trump, à esq., e o dirigente chinês, Xi Jinping, durante reunião bilateral em Osaka - Brendan Smialowski - 29.jun.19/AFP

Os europeus, de repente, se veem rotulados como "manipuladores de moeda"; os laços de segurança com o Japão estão sendo abertamente questionados.

Enquanto isso, a guerra comercial EUA-China continua progredindo a trancos e barrancos, pesando sobre o crescimento econômico global.

Mas enquanto a guerra comercial ocupa as manchetes internacionais há outra batalha entre Pequim e Washington, uma com maior potencial de causar a ruptura global —uma guerra fria tecnológica.

A China passou anos se transformando em uma superpotência tecnológica, não alinhada aos interesses dos EUA ou de seus aliados globais.

A guerra comercial forçou esse cisma a se revelar, e de repente o mundo está enfrentando uma internet global prestes a ser dividida em duas, uma ocidental e outra chinesa.

A versão ocidental será em grande parte administrada por empresas privadas com diferentes graus de regulamentação governamental; a versão chinesa será executada por Pequim e ponto final.

Diante dessa realidade, a melhor expectativa para o Ocidente —e o multilateralismo liderado pelo Ocidente na era "EUA Primeiro"— é a criação de uma versão digital da TPP, que permitirá que EUA, Europa e Japão desenvolvam suas respectivas forças tecnológicas e ajudem o mundo a traçar um caminho digital para o futuro.

Não será fácil, especialmente num momento em que os EUA demonstram pouco interesse por um papel de liderança global.

Foi esse desinteresse que levou a uma ampla deterioração nos acordos, normas e instituições multilaterais liderados pelo Ocidente.

Mas quando se trata de tecnologia há uma opção global e, para vencer, os EUA precisam de seus aliados.

Os EUA, é claro, terão que desempenhar um papel crítico, já que as mentes tecnológicas mais brilhantes e inovadoras (para não mencionar as empresas de tecnologia que as empregam) estão sediadas principalmente lá.

Mas essa é só uma parte da equação. Dada a dimensão de seu mercado, a capacidade de seus burocratas e sua abordagem proativa da supervisão tecnológica, a Europa é uma superpotência regulatória —isso foi estabelecido com o bem-sucedido lançamento do Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês) e a corrida das empresas para entrar na linha para não perderem o acesso a um dos maiores mercados consumidores do mundo. 

O Japão, por sua vez, provou ser o mercado industrial avançado mais interessado em implantar robótica, inteligência artificial e novas tecnologias para sua própria população (que envelhece rapidamente), tornando-a efetivamente um laboratório vivo para as tecnologias mais avançadas do mundo.

Coloque esses três pontos fortes juntos, dê a eles um quadro de cooperação e você estabeleceu as bases para uma TPP digital.

A ameaça de uma internet e uma infraestrutura chinesas alternativas —e a capacidade de Pequim de usar sua potência econômica para exportar sua visão de privacidade digital no século 21 para outros países— é o ímpeto para estabelecer uma TPP digital, mas o objetivo não é apenas competir com a visão da China sobre o futuro digital.

Ao estabelecer uma estrutura de TPP digital que rege o uso da internet entre as maiores economias do Ocidente, o objetivo é incentivar a China a se reformar para poder acessar um mercado de bilhões de pessoas a mais, assim como a adesão à OMC aproximou a China do Ocidente.

Esse resultado está longe de garantido. Mesmo que a China não se filie a uma TPP digital, entretanto, é um projeto extremamente necessário hoje no Ocidente tanto para coordenar a estratégia ocidental contra a crescente ameaça tecnológica chinesa quanto para provar que o multilateralismo pode sobreviver em uma ordem mundial pós-americana.

É importante para o Ocidente provar à China que ainda é uma força unida a ser considerada; é ainda mais importante para o Ocidente provar isso para si mesmo.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves  

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