Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Igor Gielow
Descrição de chapéu Copa do Mundo

Copa também é festa de chauvinista

Os ambientes militar e boleiro são majoritariamente envoltos por uma nuvem de testosterona

Kaliningrado

O futebol, como a guerra que emula, tem o potencial de extração do melhor e do pior do ser humano. Quase invariavelmente, a segunda hipótese prevalece.

Apesar dos avanços igualitários dos últimos anos, ambos os ambientes, o militar e o boleiro, são majoritariamente envoltos por uma nuvem de testosterona que não raro descamba para o chauvinismo.

As animadas ruas do centro de Moscou são palco de exemplos incontáveis desse fenômeno no microcosmo. O caso dos brasileiros grotescos assediando uma russa foi apenas o mais viral deles.

 

Invariável que a coisa chegasse ao macrocosmo. Copa na Europa, território mais encharcado de sangue da história humana? Prato feito.

O mundo redescobriu, por exemplo, que os povos que não se gostavam na finada Iugoslávia seguem com sérios problemas como vizinhos.

Na terça-feira (26), Alexandra Makienka foi com amigos assistir ao jogo entre Croácia e Nigéria em um bar em Kaliningrado, onde a partida foi disputada.

Jovem de 27 anos, ela se enturmou com um grupo de croatas sem ingresso e ganhou aquela linda camisa que homenageia as cantinas italianas de São Paulo para usar durante o jogo.

"De repente, veio um cara com uma camisa da Sérvia e perguntou: 'Você é russa? Nós somos irmãos! Eslavos! Por que está vestida assim?'", contou.

Na sequência, violência: o sujeito rasgou sua camisa, sendo contido por dois seguranças. 

"O problema, eu acho, é que esse sérvio não deve morar na Sérvia. Deve ser imigrante ilegal em algum lugar da Europa", finalizou a jovem, completando enfim o círculo de intolerâncias.

Antes disso, dois jogadores de origem kosovar da Suíça provocaram os mesmos sérvios comemorando gols com o símbolo da águia albanesa de Kosovo --o país foi desmembrado da Sérvia com uma mãozona do Ocidente.

E não se trata só dos Bálcãs. O deplorável estado das relações entre Rússia e Reino Unido esvaziou as arquibancadas de jogos da Inglaterra, levando o técnico da seleção a implorar pela presença dos fãs.

Aqui, muito a culpar está no próprio governo britânico e na imprensa do país, que pintam a Rússia como um grande Gulag. Turistas e jornalistas do país afirmam estar surpresos por não se sentirem ameaçados pela polícia "do Putin".

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