Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Igor Gielow

Pavor causado pelos caminhoneiros desnorteia ainda mais o tal centro

Ato por união inviável, pânico tucano, Josué e Jobim na roda, tudo é sinal da ansiedade reinante

As discussões sobre a viabilidade de um candidato “de centro”, ou seja, qualquer um que esteja do centro à direita do deformado espectro político brasileiro, estão contaminadas por tons fatalistas exacerbados pela paralisação dos caminhoneiros.

O ex-ministro da Justiça (FHC) e Defesa (Lula e Dilma) Nelson Jobim
O ex-ministro da Justiça (FHC) e Defesa (Lula e Dilma) Nelson Jobim - Mastrângelo Reino - 25.out.2017/Folhapress

A leitura na praça da grande (pequena, mas fiquemos com termos consagrados) política é de que um candidato único, e só ele, poderá barrar um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e um representante da esquerda. No mercado financeiro, as análises predizem o mesmo, e o resto é o apocalipse do dólar a R$ 6, fuga de capitais, o usual.

Essa é a ideia por trás de movimentos quixotescos como o lançamento do apelo das forças de centro, nesta terça (5). Se haverá alguma união possível, ela ocorrerá no segundo turno. Os interesses de cada nome citado pelo grupo como um potencial ungido são tão díspares que realmente é preciso um componente de fé religiosa para crer na empreitada antes das convenções partidárias.

Tome-se o exemplo de Josué Gomes, o empresário mineiro que é filho do fiador da primeira eleição presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Sempre foi cortejado pela política, ora pelo PT que seduziu seu pai, ora por forças à direita. As últimas ganharam, e ele acabou no PR de notório Valdemar Costa Neto.

Desde então, já foi cotado como candidato a tudo, até a presidente. Mira uma vice, a verdade é essa, mas no atual momento de opacidade, o “se colar, colou” impera. Por ora, tudo o que sua postulação fez foi levar o senador Magno Malta adiar o “sim” à vice de Bolsonaro, complicando a vida do presidenciável. Ele pode liderar as pesquisas sem Lula, mas não atrai aliados por motivos mais ou menos óbvios.

O clima de barata-voa no PSDB de Geraldo Alckmin também é exemplar da ansiedade reinante. Na segunda (4), o presidenciável explodiu durante um encontro com tucanos que buscavam dar um choque no ainda inanimado corpo de sua pré-campanha. Quem viu a cena ficou em dúvida se o tucano irá até o fim ou não.

Não ajuda muito ter figurões de seu partido lançando manifestos em que basicamente admitem que o que importa é evitar o caos, independentemente de quem for o candidato. Se ainda não se sabe toda a extensão econômica e política da paralisação dos caminhoneiros, esse desespero dá conta do tamanho do susto que o que restou do establishment pós-Lava Jato tomou.

Não causa surpresa, portanto, que até o nome de Nelson Jobim tenha voltado à baila na bancada do MDB gaúcho da Câmara como uma eventual solução para o dilema do “candidato do centro”, aspas obrigatórias. Relator da Constituinte, ex-ministro de FHC, ex-ministro de Lula (e de Dilma, mas por pouco tempo), ex-presidente do Supremo, com ótimo trânsito entre os assediados militares que chefiou por quatro anos.

Essas qualificações já o fizeram um virtual presidente eleito indiretamente no ano passado, quando a queda de Michel Temer parecia inevitável e iminente. Não deu em nada, não há viabilidade visível para nenhum nome com a marca MDB/Temer no lombo, mas a mera especulação mostra o estado das coisas.
 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.