Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Igor Gielow

De protagonista, "novo" passa a espectador da disputa eleitoral

Após dominar o debate político até o começo do ano, renovação passa longe da eleição

Com o desenho da corrida eleitoral de 2018 consolidado, é inescapável um rápido olhar para trás. Há um ano, a discussão no mundo político era sobre quem ocuparia o espaço do “novo” no pleito e tiraria, tão somente por essa virtude, o país do lodaçal entrópico em que está atolado.

Luciano Huck veste camisa de manga longa preta. Ao fundo da foto, há um painel branco com o escrito em azul claro
Luciano Huck fala no evento GovTech, nesta segunda-feira (6), em São Paulo - Luís Simione - 6.ago.2018/Real Photos/Divulgação

Nos partidos, o debate era mais acerca de sobrevivência. O PSDB buscou à exaustão um nome após a debacle de Aécio Neves e, a rigor, de toda a classe política na esteira da Lava Jato. Primeiro foi João Doria, depois, Luciano Huck.

O apresentador global tornou-se uma espécie de coringa não só do establishment, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à frente, mas também de um certo empresariado em busca de um protagonismo mais direto na política.

Assim, movimentos que começaram a surgir em 2010 na órbita de Marina Silva se multiplicaram com graus diferentes de envolvimento de membros da autointitulada sociedade civil e do mercado. A esta altura, em 2017, o fenômeno das start-ups de renovação política que emergiram da terra arrasada chamava a atenção.

Esse pessoal enamorou-se de si mesmo e até achou maneiras de monetizar seus empreendimentos, claro. Na prática, totalmente alijados da discussão majoritária, focaram em tentar lançar nomes ao Congresso. Talvez haja entre 150 e 200 candidatos no pleito, uma fração mínima deve ter algum sucesso, apesar dos patronos endinheirados.

Grupos variados, como Agora!, Acredito e RenovaBR, descobriram logo que as regras do jogo não eram simples e que voto não é “like”. Acabaram absorvidos por uma série de partidos-hospedeiros para conseguir viabilizar candidaturas que, via de regra, se chegarem lá serão devorados por um tal de Colégio de Líderes (supõe-se que em seus cursos de formação já tenham ensinado o que é isso).

Quando Huck teve de escolher entre a Globo e a nação, fez o que achou melhor. De quebra, poupou o eleitor de um previsível e monocórdio discurso politicamente correto que prega difusa renovação pontuada pela caretice do bom-mocismo. Dá voto, é inegável, mas até aí a desobediência civil pregada pelo PT também. Estamos no Brasil.

O último da fila foi Joaquim Barbosa, que quase saiu presidenciável pelo PSB já no avançado da hora de 2018. Nove entre dez caciques viam nele um nome potencialmente competitivo como candidato, ainda que uma vez eleito seria uma incógnita não muito diferente de Huck. De novidade no pleito, se 28 anos de Congresso permitem dizer isso, sobrou Jair Bolsonaro. Pois é.

Assim, não deixa de ser carregado de ironia o fato de uma romaria de candidatos a presidente ter se formado para beijar a mão justamente de Huck, ora “entrevistador”, em um evento sobre governança e tecnologia ocorrido na segunda e na terça em São Paulo.

Simbolicamente, foi uma espécie de oferenda ritual a um futuro que nunca veio e, ao mesmo tempo, um elogio à política como a conhecemos, de lado a lado.

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