Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

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Ilona Szabó de Carvalho
Descrição de chapéu Eleições 2022

Vote pelo futuro dos jovens no país

O Brasil está falhando com os jovens ao limitar os seus sonhos

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Em uma democracia, o nível da expectativa e otimismo dos jovens com seu país é um indicador chave de sua saúde e sucesso. Para além do funcionamento das instituições e do pleno exercício das liberdades e direitos, a confiança dos mais jovens nas oportunidades para seu futuro é uma das medidas do potencial para este país dar certo. E aqui já adianto: o presidente eleito no próximo dia 30 terá que trabalhar muito para reconquistar a crença dos jovens no Brasil.

Nosso país está falhando em larga escala em muitos aspectos democráticos, mas gostaria de enfatizar a gravidade de falhar com os jovens ao limitar os seus sonhos e suas chances de futuro. Primeiro, trago uma lembrança do movimento oposto. Me recordo como se fosse hoje da volta de cérebros na primeira década dos anos 2000. Vivíamos um boom de commodities, de redução de desigualdades e de entusiasmo com a democracia. Foi o momento mais significativo de ampliação da participação social e inclusão de novas vozes e grupos antes marginalizados.

Uma jovem, de óculos, posa para foto em frente a uma porta de aço com desenhos de casas
A estudante Yanne Matos, 17, diz que nem sequer consegue imaginar como será sua vida daqui a dez anos - Eduardo Knapp - 10.out.22/Folhapress

Muitos jovens que tiveram a oportunidade de estudar fora do país voltavam cheios de esperança e vontade de contribuir. Eu não só me incluo nesta leva inicial como também contratei no Instituto Igarapé jovens profissionais recém-chegados de universidades de excelência no exterior, que deixaram boas oportunidades para trás e trouxeram o melhor de si na bagagem. Neste período, vimos a emigração líquida de jovens brasileiros, e também de jovens residentes no país migrando para cidades grandes e pequenas para fazer a diferença.

Hoje, porém, a realidade não poderia ser mais distinta. Pesquisa recente do Datafolha mostra que 76% dos jovens brasileiros entre 15 e 29 anos querem deixar o país, resultado que traz uma clara discrepância entre o otimismo pessoal dos jovens —67% acreditam que sua vida será melhor no futuro— e a crença no Brasil. Essa frustração é demonstrada na prática pela fuga de cérebros da população com maior nível educacional que se acentuou a partir de 2016 e cresceu nos últimos três anos, seja para a Alemanha, EUA, Portugal, ou tantos outros países.

É um mau presságio para a democracia brasileira. Olhando ao nosso redor na América Latina, a crença na democracia vem caindo nos últimos anos, em especial entre os mais jovens. No grupo etário com menos de 25 anos, somente cerca de 55% apoiam a democracia, e na faixa entre 26 e 35 anos é onde o menor apoio se verifica —53%, conforme pesquisa Lapop de 2019. Estas gerações demonstram cada vez menos otimismo e senso de confiança e legitimidade nas instituições políticas. Seus líderes têm falhado gravemente com eles, e no Brasil de hoje isso é mais evidente do que nunca.

Na eleição mais consequente de sua história, o aumento do eleitorado foi particularmente expressivo na faixa etária de jovens de 16 e 17 anos. Suas visões e posições serão cada vez mais críticas se não adequadamente compreendidas e suas necessidades atendidas pela classe política brasileira, que está envelhecida e tem muitas ideias ultrapassadas. Mas a escolha sobre qual visão de futuro está sendo oferecida pelos dois candidatos à Presidência não poderia ser mais oposta.

Um dos candidatos atraiu cérebros durante seus dois mandatos, promete governar para todos e, no mínimo, está olhando para frente, buscando resgatar a esperança e reconstruir laços rompidos por erros e pela polarização tóxica. E o outro, que tenta a reeleição, promete continuar governando para os seus, prega e entrega ódio, desordem, e destruição dos avanços em políticas públicas e capacidades institucionais que custaram muito trabalho e exercício democrático.

Caro leitor, a escolha do voto é sua, mas você não deveria pensar somente em si ao votar. Se pergunte e pergunte às crianças e aos jovens com o que sonham e o que precisam. Vote para que eles não desejem ou precisem sair do país.

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