Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

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Ilona Szabó de Carvalho

Retomada da jornada rumo à verdadeira democracia

Precisamos assumir o compromisso conjunto de não mais retroceder

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A literatura sobre como as democracias morrem é extensa, mas pouco se fala em como é possível recuperá-la. Em outubro, teremos a oportunidade de iniciar um novo capítulo da nossa história. Além da necessidade de virar a página, precisamos assumir o compromisso conjunto de não mais retroceder. É hora de colocar o Brasil de volta no trilho da consolidação democrática e do desenvolvimento sustentável.

A recém-escrita "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito" demonstra que ainda temos fôlego para enfrentar e enterrar o populismo autoritário. Já são mais de 800 mil assinaturas, de todos os espectros políticos, demonstrando que ainda somos capazes de nos unir em prol de compromissos inegociáveis.

Os desafios do Brasil não são poucos e os meios a serem adotados para superá-los são complexos. Enquanto os arroubos autoritários do governo federal e as ameaças de golpe ocupam os holofotes, a fome, as violências, a destruição ambiental e a precarização da vida da população avançam.

Vista da fachada da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo
Nesta quinta-feira (11) será feita a leitura da carta em evento emblemático na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo - Eduardo Knapp - 20.jan.22/Folhapress

Enquanto grupos predatórios usurpam o Estado para cuidar de interesses privados, há pessoas sofrendo com a falta de serviços públicos essenciais —muitas em situação de extrema pobreza e insegurança alimentar. Sofremos também com a falta de vontade política ou de capacidade do Estado em garantir o cumprimento das leis e o respeito à Constituição. Há urgência nessas demandas e o caminho para solucioná-las é um só: pela via do diálogo e da construção democrática.

O fortalecimento da democracia é um processo constante, que demanda esforços coletivos, engajamento cívico e trabalho incessante para a realização de direitos dos mais diversos grupos que integram a nossa sociedade. A defesa de um ambiente democrático precisa ser um exercício diário e compartilhado. Uma das eleições mais determinantes desde a redemocratização se avizinha e tais premissas precisam habitar os corações e mentes de quem pretende virar o jogo neste ano.

Muito se perdeu nos últimos anos. Não podemos mais normalizar ou aceitar as ameaças de ruptura, os desvios de finalidade das instituições públicas, a corrupção e as violações de direitos. Precisamos dar saltos quânticos na qualidade e na escala da oferta dos bens públicos. E isso só se faz com conhecimento de ponta e parcerias entre todos os setores da sociedade.

Organizações da sociedade civil e "think tanks", como o Instituto Igarapé, fazem parte desse movimento de construção e retomada democrática, contribuindo para a inclusão de prioridades no debate público, para a articulação de distintos grupos e para a melhoria das políticas públicas informadas por dados e evidências. Muitos mais precisam se engajar.

É hora de o interesse público voltar a ser prioridade em um país cansado do fisiologismo. Só assim se garantirá uma vida decente, justa e digna para todos os brasileiros e brasileiras, do presente e do futuro.

Nesta quinta-feira (11), será feita a leitura da "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito", em evento emblemático na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. Destaco aqui uma passagem presente na carta que resume o sentimento atual de todos que apoiam esta mobilização: "Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática". Que esse seja um importante marco da inadiável retomada da jornada rumo à verdadeira democracia.

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