A declaração conjunta dos líderes do Brasil e da China no dia 14 de abril reforçou a importância de fortalecer o sistema multilateral para enfrentar os grandes desafios globais, em especial as mudanças climáticas. Esse compromisso com a cooperação é ainda mais importante à medida que o mundo caminha para a consolidação da multipolaridade, onde o jogo político global é disputado e mediado por distintas potências e interesses.
Nesse contexto, em 2022 tive a honra de ser convidada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, para o seu Conselho Consultivo de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, criado para formular recomendações concretas que promovam uma mudança radical na cooperação internacional para a resolução de desafios globais compartilhados e o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Juntamente com outras 11 lideranças globais, incluindo os co-chairs Ellen Johnson-Sirleaf, ex-presidente da Libéria, e Stefan Lofven, ex-primeiro ministro a Suécia, e após um ano intenso de trabalho, encontros e consultas abrangentes, lançamos nesta segunda-feira (17) nosso relatório final.
O documento "Um Ponto de Inflexão para as Pessoas e o Planeta: governança global eficaz e inclusiva para o presente e o futuro" oferece uma série de recomendações acionáveis —para governos e para o setor privado—, que vão desde reformas no Conselho de Segurança da ONU à reformulação do sistema financeiro global e a uma transição verde e justa.
Baseado em princípios-chaves para reconstruir a confiança no sistema multilateral —centrado nas pessoas, representativo, transparente, equitativo, em rede, provido de recursos, focado na missão, flexível, responsável e orientado para o futuro—, o relatório apresenta seis mudanças transformadoras que podem ajudar a enfrentar os desafios globais coletivos atuais e futuros.
A primeira mudança proposta é restaurar a confiança no multilateralismo através de inclusão e responsabilização de todos as partes envolvidas, garantindo maior representatividade e levando em conta as futuras gerações.
A segunda consiste em medidas abrangentes para recuperar o equilíbrio com a natureza e fornecer energia limpa para todos, incluindo um pacto pelas pessoas e pelo planeta, um pacote de descarbonização e um mecanismo global de incentivo para proteger as florestas em pé.
A terceira mudança, que também visa acelerar os ODS, é assegurar recursos financeiros sustentáveis que beneficiem todos, por meio de reformas e da reorientação do sistema de bancos multilaterais de desenvolvimento e do fortalecimento da rede financeira de proteção global.
A quarta é apoiar uma transição digital justa, com a criação de uma Comissão Global para Digitalização Justa e Sustentável e a definição de princípios de governança de dados.
A quinta mudança visa empoderar arranjos de segurança coletiva equitativos e eficazes, por meio de reformas no Conselho de Segurança da ONU, empoderamento da Comissão de Consolidação da Paz e compromisso renovado com a norma global contra o uso armas nucleares e com um prazo para a eliminação total destas.
Finalmente, a sexta mudança inclui medidas para fortalecer a governança global contra riscos transnacionais, incluindo uma estratégia global para o crime organizado transnacional.
As propostas do relatório são um ponto de partida para aprimorar a cooperação internacional e impulsionar a realização da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
A Cúpula do Futuro, em 2024, oferece uma oportunidade única para abordar lacunas na governança global e construir um sistema multilateral mais vigoroso, capaz de impactar positivamente a vida das pessoas em todo o mundo.
Cabe aos líderes mundiais assumir essa responsabilidade e trabalhar em conjunto para um futuro mais justo, próspero e sustentável. E, a nós, contribuir para essa mudança.
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