Ilona Szabó de Carvalho

Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)

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Ilona Szabó de Carvalho

A revolução que chega com o conceito de finanças sustentáveis

Encontro de ministros do G20 trouxe avanços sobre reforma da arquitetura financeira

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Não foi mais uma daquelas reuniões protocolares. O encontro de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G20, o grupo das economias mais ricas do mundo, realizado em São Paulo na semana passada, trouxe avanços na urgente discussão da reforma da arquitetura financeira internacional. A reunião também colocou a taxação dos super-ricos na agenda e tornou mais palpável o financiamento dos países em desenvolvimento para que seja possível a transição justa a modelos econômicos verdes e sustentáveis.

Podemos dizer que o Brasil foi bem recebido à frente da presidência do G20 ao pautar na primeira grande reunião no calendário do grupo temas que precisam ser priorizados. O país investiu na virada de perspectiva, colocou no centro da mesa questões pertinentes aos países em desenvolvimento e precisará avançar nas negociações até o encontro presidencial em novembro, no Rio, para formar consenso.

Na abertura da Trilha de Finanças –dedicada aos temas macroeconômicos e financeiros globais—, o ministro Fernando Haddad deu o tom, trazendo para o fórum a responsabilidade de coordenar esforços com o objetivo de "criar incentivos para que os fluxos de capital sejam eficientemente direcionados para as melhores oportunidades, definidas não mais em termos de lucratividade imediata, mas sim por critérios sociais e ambientais".

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O ministro Fernando Haddad no encontro do G20 - Zanone Fraissat/Folhapress

Foi provavelmente a primeira vez que a desigualdade ocupou lugar central numa conversa do G20 sobre finanças, e isso não é coisa pouca.

Se não houve consenso suficiente para um comunicado final, não deixa de ser sinal relevante que o problema não foi na agenda econômica, mas na intrincada e injustificável falta de sintonia entre os países ricos para dar um basta aos interesses nacionais diante dos conflitos geopolíticos que ameaçam a sobrevivência de pessoas e do planeta, e a democracia.

Entre os principais pontos discutidos, está a reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento, um dos pilares da nova arquitetura financeira internacional e um dos focos brasileiros no G20.

O fato de o presidente de uma dessas instituições, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ser o brasileiro Ilan Goldfajn, alinhado ao crescente consenso de que é preciso repactuar novos modelos em pleno século 21, é um trunfo na negociação entre os países em desenvolvimento e os mais ricos.

É essencial deixar para trás a governança estabelecida no pós-Guerra para entregar de forma mais efetiva o financiamento dos bens públicos globais —bens e serviços que beneficiam toda a sociedade, como saúde e segurança públicas e um meio ambiente saudável.

Os novos tempos exigem a evolução dessas instituições para incluir as nações com menos acesso aos mecanismos de financiamento, como recomendado pelo Conselho Consultivo de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz (HLAB), do secretário-geral da ONU.

Em seu relatório final, o grupo enfatiza o papel dos bancos multilaterais em iniciativas de finanças mistas que alavanquem capital privado e público para proteger recursos compartilhados.

Outro ponto a ser destacado é o encaminhamento de uma reforma tributária que inclua a taxação dos multimilionários –tema pautado pelo Brasil que, se não obteve ainda o consenso, teve o mérito de ter sido levado à mesa de forma séria pela primeira vez no âmbito do G20, como apontou o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz.

Essa nova arquitetura financeira inclui, claro, o financiamento climático. O governo federal botou na rua, durante o encontro do G20, o Eco Invest Brasil, um programa para incentivar investimentos de longo prazo em setores de transformação ecológica com instrumentos de mitigação de risco cambial, em parceria com o BID.

Página inicial do programa Eco Invest Brasil
Página inicial do programa Eco Invest Brasil - Reprodução

O conceito de finanças sustentáveis traz uma revolução ao estabelecer critérios de impacto socioambiental. Há um longo trabalho a ser feito, mas a esperança é bem-vinda.

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