Das 479 páginas do relatório da Polícia Federal sobre a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes, 83 se referem à trajetória da família Brazão.
O índice do documento é suficiente para entender a descrição. "Envolvimento em escândalos", "evolução patrimonial suspeita", "aparelhamento dos órgãos estatais", "grilagem de terras" são os capítulos que organizam o inventário.
O texto conta com reproduções de jornais que expõem o que a PF chama de "singular potencial incriminador dos irmãos". Algumas sequer têm link, por serem de uma época em que a internet engatinhava.
Em quase três décadas, os Brazão formaram currais eleitorais associando atividades suspeitas e abuso de poder econômico por meio do assistencialismo. A Justiça jamais foi capaz de coibir.
Assim, os Brazão sempre conseguiram muito voto. Mas quem lhes deu poder foi a elite política do Rio de Janeiro, facilitando a infiltração nos órgãos públicos por meio de cargos, secretaria e até um posto no Tribunal de Contas do Estado. Ela sempre tapou nariz e olhos para as evidências em busca de dividendos eleitorais.
Esse comportamento pode ser resumido na resposta de Eduardo Paes a Marcelo Freixo num debate na disputa à prefeitura em 2012. O prefeito foi criticado por ter aliados citados no relatório da CPI das Milícias.
"Sou obrigado a saber todo mundo que está citado no relatório? Aquilo não é a Bíblia."
Mais de uma década depois, Paes nomeou Brazão, citado no relatório. Depois, o exonerou e reconheceu o erro.
Mas muitos personagens semelhantes são conhecidos e circulam na política fluminense cada vez com mais poder. Torcem para que as suspeitas contra Chiquinho e Domingos sirvam apenas como exemplo de linha vermelha a não ser cruzada: mandar matar um vereador da capital.
Esperam preservar os demais capítulos de suas atividades tão públicas quanto suspeitas.
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