Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Ivan Marsiglia

O mundo contado em tuítes

Coluna pretende refletir sobre o mundo contado por meio do Twitter

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De rede de pequenas citações e divulgação de eventos em tempo real em 2006, quando surgiu, o Twitter assumiu papel novo no cenário político e social contemporâneo. 

Desde que chegou à Presidência dos EUA pelas mãos do bruxo das novas tecnologias Steve Bannon, Donald Trump fez dos tuítes meio de comunicação direta com seus apoiadores, no que foi imitado no Brasil por Jair Bolsonaro, Sergio Moro e tantos outros.

Hoje, o Twitter tem sido usado por governantes para burlar as instâncias tradicionais de negociação política, criar factoides, fritar ou demitir ministros e estimular linchamentos virtuais.

Sem deixar de ser, por outro lado, a ferramenta fascinante que permitiu a aproximação entre o eleitor e seus representantes, o público e o artista, o fã e a celebridade, o leitor e o jornalista que aqui escreve.

Esta coluna pretende refletir –com senso crítico e senso de humor– sobre o mundo, real ou fake, contado nos 140 caracteres de cada tuíte (limite expandido para 280 em 2017).

Símbolo do Twitter em frente à sede da empresa, em San Francisco (EUA). Novo colunista da Folha vai refletir sobre a política por meio da rede social
Símbolo do Twitter em frente à sede da empresa, em San Francisco (EUA). Novo colunista da Folha vai refletir sobre a política por meio da rede social - Josh Edelson - 4.nov.2016/AFP

Bola fora nas redes 

Nos últimos dias, a política ficou pequena no Twitter diante da imensa repercussão do caso Neymar. Depois de um início até contido após a divulgação da denúncia de estupro na sexta-feira por uma mulher em São Paulo, o caso explodiu com a desastrada reação do staff do jogador.

Já no sábado, o craque da seleção brasileira partiu para o ataque: @neymarjr “Por motivo de extorsão estou sendo obrigado a expor minha vida e família”, e colou na sequência o link do vídeo de sete minutos postado pouco antes no Instagram, em que se explica e também divulga prints de conversas apimentadas que manteve pelo WhatsApp com a suposta vítima, antes e depois do encontro em Paris. Nas trocas, nudes enviados pela acusadora –cujo nome foi borrado, mas aparece perfeitamente legível pelo menos uma vez– e frases dele próprio, como “vou querer muito te comer nessa posição aí”.

O "Neymar prints" virou trending topics. “Não tínhamos escolha”, tentou justificar Neymar pai, em entrevista à Band: “Eu prefiro um crime de internet ao de estupro.”

A explicação não convenceu o historiador e editor de esportes do jornal O Globo: @thalescmachado “Neymar tem 112 milhões de seguidores. Crianças, inclusive. Sobe uma conversa em que expõe a acusadora, revela fotos íntimas sem autorização, mostra conteúdo sexual em conversas pra qualquer um. Foi injustiçado? Nega publicamente, prova e se defende na Justiça.”

Foi retuitado e endossado, entre outros, pelo comentarista do Sportv e ex-diretor da revista Placar @sxavierfilho.

RIP Reaça 

Outro caso em que o comentário repercute mais que o fato em si foi a morte de Tales Volpi Fernandes, o MC Reaça, apoiador de primeira hora da candidatura Bolsonaro.

Inicialmente, a notícia fomentou teorias conspiratórias. No sábado, uma deputada federal do PSL duvidou da tese da polícia de que se tratava de suicídio. @Biakicis “A estranha morte do MC Reaça.

Segundo amigos que estiveram com ele na Paulista dia 26, ele estava feliz e cheio de planos. Sua advogada afirma que estão inventando que ele sofria de depressão, o que não é verdade.”

Horas depois, confrontada com informações da imprensa de que Volpi –que se descrevia como “cristão gaúcho e instrutor de boxe”– se enforcara após ter espancado uma mulher grávida com quem mantinha um caso extraconjugal, concedeu: @Biakicis “Acabo de receber informações de que o MC Reaça parece mesmo ter-se suicidado. Sua partida precoce é muito triste.”

Domingo foi a vez do presidente tuitar sua mensagem de solidariedade. @jairbolsonaro “Tales Volpi, conhecido como MC Reaça, nos deixou no dia de ontem. Tinha o sonho de mudar o país e apostou em meu nome por meio de seu grande talento. Será lembrado pelo dom, pela humildade e por seu amor pelo Brasil. Que Deus o conforte juntamente com seus familiares e amigos.”

Sobre a mulher espancada, uma agente de viagem de 28 anos que teve que passar por cirurgia e segue internada no Hospital Augusto de Oliveira Camargo, em Indaiatuba, nenhuma palavra.

Cinzas da Paz Celestial 

Nos 30 anos do Massacre na Praça da Paz Celestial, ocorrido em 1989 em Pequim, Adriana Abdenur, coordenadora do Instituto Igarapé e filha do ex-embaixador Roberto Abdenur, divulgou esta semana no Twitter uma série de fotos e memórias da época, quando ela tinha de 12 para 13 anos.

A thread –ou “fio”, como se chamam as sequências de tuítes feitas por um usuário sobre um mesmo assunto– tem posts sobre a repressão chinesa aos manifestantes pró-democracia, como o que vai a seguir. @AAbdenur “Durante a noite inteira o estrondo de canhões estremecia as janelas da nossa casa. Passei aquela noite segurando a mão de uma amiga cuja família havia se alojado na embaixada. Na manhã seguinte víamos colunas de fumaça vindo da direção da praça. Estavam cremando os corpos.”

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